Prêmio
Economista elaborou teoria sobre ciclos econômicos Edward Prescott e Finn Kyndland, vencedores do Nobel de Economia de 2004, são responsáveis por criar uma teoria alternativa para explicar os ciclos econômicos. Antes deles, a ideia mais aceita dizia que a crise e o crescimento podiam ser explicados somente por uma variação na demanda, conforme teorizou John Maynard Keynes. De acordo com o modelo proposto pelo economista britânico, bastaria o governo incentivar a demanda, via política monetária, para evitar o desemprego. Ele pressupunha também que inflação e desemprego eram forças inversas. Se um subia, o outro deveria cair. O governo agiria como o fiel da balança, incentivando ou freando a demanda. Nos anos 70, porém, a teoria de Keynes começa a perder força, quando vários países apresentaram alta de inflação e desemprego simultaneamente. Prescott e seu colega norueguês Kyndland propuseram um novo modelo para explicar os ciclos econômicos, que levava em conta a produtividade. Segundo eles, o avanço ou o retrocesso reagem de acordo com as mudanças no ambiente econômico. Quando a economia vai bem, a produtividade aumenta. Suas ideias serviram de base para a criação de políticas adotadas por vários países, como a criação de bancos centrais independentes.
Vencedor do Nobel de Economia de 2004, o norte-americano Edward Prescott acredita que o Brasil precisa descentralizar as operações de Brasília. As competições entre os governos estaduais podem tornar a máquina pública mais eficiente. Ao lado do gargalo da infraestrutura, esse é o grande desafio do país, mesmo sob o risco de um recrudescimento da guerra fiscal federativa, diz Prescott. Segundo ele, a base da política econômica e o Banco Central independente na prática são responsáveis pelo crescimento dos últimos anos. Prescott esteve em Joinville na última sexta-feira, participando da Expogestão 2010. Ele conversou com jornalistas sobre a economia brasileira, a crise na Europa, a regulamentação do mercado financeiro e a desvalorização da moeda chinesa. Veja os principais trechos da conversa:
Estados Unidos
A crise financeira, pelo menos nos Estados Unidos, está resolvida. Foi administrada razoavelmente bem. A recessão acabou há 6 meses. Não haverá uma depressão, como depois de 1929, mas acho que essa será uma década perdida, como aconteceu com o Japão após a crise de 1992.
Grécia
Na Europa, o caso é diferente dos EUA. A Grécia está falindo. Há um lado positivo nisso, porque serve como um alerta para outros governos. Vai precipitar boas reformas. Os governos não podem gastar mais do que recebem. Não se pode esconder dívidas, como a Grécia fez. É desonesto.
Brasil
Se o próximo governante brasileiro mantiver a base da política econômica atual, é difícil que o país não vá se dar bem. Uma maneira de mensurar isso é pelo investimento estrangeiro. Quem coloca o dinheiro aqui passou muito tempo analisando a situação do país. Se eles estão investindo, é um bom sinal.
Infraestrutura
O país precisa fazer investimentos produtivos, em que o retorno é maior do que o custo. A infraestrutura é um bom exemplo desse tipo de investimento. Na medida do possível, porém, é preciso usar dinheiro privado para isso, e evitar grandes burocracias. O Chile é um bom caso a ser observado. Em Santiago, foi gasto muito dinheiro na construção de autoestradas para agilizar o transporte de quem trabalha na cidade. Foi caro, mas um sucesso em se tratando de economizar o tempo das pessoas.
Gasto público
O governo brasileiro precisa descentralizar suas decisões. Os estados devem ter mais autonomia para competir com outros estados. Só assim será possível o surgimento de governos mais eficientes. Esse ainda é um grande problema no Brasil: o excesso de centralização.
Conquistas
O Banco Central independente no Brasil é uma grande conquista. Ficou muito mais fácil para as empresas focarem na eficiência, sem se preocupar com o que vai acontecer com o nível geral dos preços. Outra conquista brasileira é a capacidade de deixar as mudanças acontecerem. Estive numa companhia aérea brasileira recentemente, e fiquei positivamente impressionado. O Brasil não subsidiou o sistema antigo (de aviação), e deixou que as mudanças ocorressem via mercado. Permitir essas mudanças é algo difícil de ser feito politicamente.
Indústria
É um erro subsidiar as indústrias. Aposto que se você pudesse aumentar seu salário em 100 vezes, você rapidamente daria um jeito de gastar 100 vezes mais. Se você der dinheiro, elas vão achar um meio de gastá-lo, não necessariamente de forma eficiente. Depois de uma crise, é saudável que haja mudanças, que velhas empresas contraiam de tamanho e que surjam novas indústrias. Estar aberto para o mercado internacional também é importante. Força os produtores a se tornarem mais eficientes e produtivos, ou eles se deparam com problemas para vender seus bens.
Iuan
A questão da moeda chinesa é exagerada. A China está acumulando uma enorme quantidade de reservas internacionais assim como o Brasil também tem feito, ainda que mais timidamente e isso é bom. De qualquer forma, é quase certo que a moeda chinesa vai se valorizar. O país está começando a lidar com problemas de inflação. É importante que a China também continue bem, porque isso vai beneficiar a todos. Quando outros países vão bem, é bom para todo o mundo. Veja o caso da Embraco (empresa especializada em soluções de refrigeração, de Joinville). Eles criaram refrigeradores duas vezes energeticamente mais eficientes, reduzindo pela metade a necessidade de eletricidade.
Regulamentação
Vai haver outra crise? Sim, crises são eventos periódicos. Elas vêm acontecendo regularmente nos EUA nos últimos 200 anos. Acho importante que haja reformas, mas fico nervoso quando se fala em regulamentação. A crise atual nos EUA foi causada por má regulamentação. Eu culpo Washington pela crise, não Wall Street. Os dois estavam dormindo juntos, digamos assim. O governo federal queria incentivar a casa própria. Eles forçaram os bancos a fazer financiamentos de subprime por um ato de legislação. Fizeram com que a Freddie Mac e a Fannie Mae, dois empreendimentos patrocinados pelo governo, garantissem esses financiamentos. No fim, todo mundo sabe o que aconteceu: elas se tornaram insolventes. Acho que duas regras são importantes para o mercado financeiro. A primeira é que haja 100% de garantia em empréstimo feito com dinheiro público, para que não haja risco de insolvência de quem tomou o dinheiro emprestado. A outra questão é proibir que instituições tomem emprestada uma quantia muito grande de um único grupo e emprestem esse montante para outro grupo. Num caso desses, se o valor do ativo cair, também há um grande risco de insolvência. No fim, quem acaba pagando é o contribuinte. Isso deve ser evitado.
O jornalista viajou a convite da Expogestão.
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