Mar territorial
Proposta federal fortalece demanda do PR
Renan Colombo
A possível extensão da fronteira oceânica do Brasil fortalece o projeto que prevê a revisão dos critérios de divisão do mar territorial brasileiro, ampliando a faixa que cabe ao Paraná. A análise é do presidente do Movimento Pró-Paraná, Jonel Chede, que lidera a mobilização da sociedade civil em torno da proposta, em trâmite na Câmara dos Deputados.
A demanda paranaense busca corrigir uma distorção da legislação atual, que define a extensão do mar territorial dos estados a partir de linhas ortogonais. Isso prejudica Paraná e Piauí únicos com costa em formato côncavo , que ficam com fronteiras oceânicas diminutas e externas à área de exploração do pré-sal. A ideia é que as linhas passem a ser paralelas.
Chede diz que o crescimento do território marítimo nacional aumentaria também a área paranaense, desde que revistos os critérios de divisão. Isso potencializaria a capacidade de exploração de riquezas pelo estado. Ele também afirma que o Movimento Pró-Paraná pretende se reunir com a nova bancada parlamentar do estado para reforçar a mobilização pela aprovação do projeto.
Um projeto que o governo brasileiro deverá apresentar à Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015 poderá expandir o território marítimo nacional para além da faixa de 200 milhas náuticas. Atualmente, apenas nessa faixa o país possui direitos exclusivos de exploração dos recursos marinhos, incluindo as jazidas de petróleo do pré-sal. Com o projeto, apresentado pela primeira vez à ONU em 2004, os direitos brasileiros poderão se estender por toda a plataforma continental geográfica, até um limite de 350 milhas náuticas.
A proposta acrescentaria ao país uma nova área oceânica de 963 mil quilômetros quadrados, maior que o território da Venezuela. Pesquisadores brasileiros acabam de concluir o primeiro de três relatórios que detalham os extensos e complexos estudos científicos exigidos pela ONU para a análise da proposta , sobre a configuração geológica da plataforma continental.
O projeto, batizado de Amazônia Azul, é conduzido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar. Caso seja aprovada, a proposta aumentará o território marítimo brasileiro dos atuais 3,5 milhões de quilômetros quadrados para 4,5 milhões de quilômetros quadrados região equivalente a 52% da área continental do país.
A primeira proposta, apresentada em 2004 à Comissão de Limites da Plataforma Continental da ONU, foi aprovada em sua maior parte, com a exceção de quatro áreas que correspondem a 190 mil quilômetros quadrados, menos de 20% da área reivindicada. O Brasil não aceitou a recomendação e optou por fazer novos estudos complementares para elaborar uma nova proposta revisada, de acordo com o capitão de mar e guerra Celso Peixoto Serra, coordenador do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira programa criado em 1989 pelo governo federal para estabelecer o limite continental além das 200 milhas.
"Não nos interessa conseguir só um pedaço desse território, ainda que ele corresponda a mais de 80% da nossa reivindicação. Queremos adquirir a maior área possível para o Brasil e, se tivéssemos aceitado a recomendação da ONU em 2007, não poderíamos agora fazer uma nova proposta", disse.
Para suprimir as divergência entre os técnicos da comissão da ONU e os pesquisadores brasileiros, foi preciso apostar em estudos complementares. Entre dezembro de 2008 e maio de 2010, foram refeitos estudos em toda a margem continental.
O Brasil foi o segundo país a solicitar a ampliação da plataforma continental o primeiro foi a Rússia, em 2001. Depois disso houve outros 77 pedidos à comissão da ONU. "Não é à toa, porque ao incorporar a plataforma continental, os países costeiros podem explorar todo o solo e subsolo, que tem todo tipo de riqueza", afirmou Serra.
Estudo
Relatório defende critérios geológicos
Segundo o consultor jurídico do plano de levantamento, Rodrigo More, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo, o relatório que será apresentado à ONU é uma descrição completa, com coordenadas geográficas, de toda a área que será reivindicada pelo país.
Segundo ele, a reunião das Nações Unidas que estabeleceu a Convenção sobre o Direito do Mar, em 1973, criou critérios geológicos que definem a plataforma continental. Mas, para demonstrar que os critérios se aplicam ao litoral de um país, é preciso unir informações precisas. "É um debate que associa geologia, geomorfologia e a interpretação jurídica da convenção."
A convenção define que a plataforma continental, do ponto de vista físico, é um platô que vai desde a terra firme até uma região onde há uma queda abrupta de profundidade o chamado talude. Dependendo da conformação do litoral, o talude pode ficar antes ou depois da plataforma continental jurídica. Assim, a legislação prevê que a plataforma continental onde o país tem direito de explorar os recursos do solo e subsolo pode variar de acordo com a geografia, até um limite máximo de 350 milhas da costa. "Se a legislação define que a plataforma vai até certa distância do pé do talude, é preciso caracterizar cientificamente onde está esse ponto. Mas a regra jurídica é que vai orientar a aplicação dessa definição geológica.", disse More.
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