O Brasil reconquistou a chamada “autossuficiência volumétrica” de petróleo. Na média diária de janeiro a novembro de 2015, o país produziu 2,578 milhões de barris de óleo bruto. No mesmo período, o consumo de derivados somou 2,224 milhões de barris, resultando em um superávit de 354 mil barris diários.
Dois fatores contribuíram para esse excedente. Pelo lado da oferta, a produção de petróleo cresceu 7,5% em relação à média diária de 2014, com avanço da Petrobras e das petroleiras privadas. Pelo lado da demanda, a recessão deprimiu o consumo, que baixou 7,7%, na primeira queda anual desde 2003.
Os dados foram levantados pela Gazeta do Povo na base de dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e estão expressos em barris equivalentes de petróleo (bep). A oferta de petróleo inclui líquido de gás natural (LGN) e a estimativa de demanda teve como base o consumo aparente (produção mais importações menos exportações) de 13 derivados.
Conquista simbólica
O efeito da retomada da autossuficiência tende a ser mais simbólico que prático. Uma vez que o parque de refino não dá conta da demanda local por combustíveis e ainda depende de uma fração de petróleo estrangeiro, mais leve, o país continuará importando óleo bruto e derivados, principalmente diesel.
REFINO
O processamento de petróleo nas refinarias brasileiras caiu 5% no ano passado, de 2,125 milhões para 2,012 milhões de barris por dia, segundo a ANP, reguladora do setor. A boa notícia foi a queda na dependência de óleo importado, que caiu de 18% para 14% do total processado. No início dos anos 2000, um quarto do petróleo refinado no país vinha do exterior.
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No início de 2014, antes de cancelar projetos de duas refinarias e adiar etapas de outras duas, a Petrobras esperava alcançar até 2020 o que chamou de “autossuficiência de derivados”, com o refino local suprindo todo o mercado interno. Hoje a meta parece improvável.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, quando o país voltar a crescer as importações vão aumentar, ao passo que as incertezas geradas pela queda das cotações do barril e pela suspensão de investimentos ameaçam a expansão da produção de petróleo. Essa combinação pode levar o Brasil de volta ao déficit. A condição de autossuficiente, mantida entre 2005 e 2012, foi perdida na sequência em meio a um cenário de disparada das importações e estagnação da produção.
Alheia a déficits e superávits, a política de preços da Petrobras segue seu próprio caminho. Entre 2011 e 2014, a empresa subsidiou gasolina e diesel para ajudar o governo a conter a inflação. Hoje, com o barril mais barato e a balança comercial mais confortável, a estatal mantém altos os preços dos combustíveis.
FATIA
A Petrobras produziu 2,128 milhões de barris de petróleo por dia em 2015, 4,6% mais que no ano anterior. O volume é o maior da história da companhia, mas não evitou que ela continuasse a perder espaço na produção nacional.
Como a produção das petroleiras privadas – lideradas por BG, Repsol Sinopec, Statoil, Petrogal e Sinochem – cresceu mais rápido, a fatia da estatal, que era de 87% da produção total em 2014, caiu para 85%.
Algumas dessas empresas são sócias da Petrobras em campos que entraram em operação nos últimos anos, inclusive no pré-sal. “A tendência é de que a participação da Petrobras recue gradualmente, chegando a 70% no longo prazo”, diz Edmar de Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ.
Indústria ameaçada
Enquanto isso, a cadeia de fornecedores tem quebradeira e demissões em massa. Com dificuldades de caixa e sob os efeitos da operação Lava Jato, a Petrobras cancelou ou adiou projetos. E as petroleiras privadas investem pouco porque o desenvolvimento de novos campos minguou depois que governo passou cinco anos sem leiloar blocos de exploração, entre 2008 e 2013.
Para Jean Paul Prates, diretor da consultoria Expetro e presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), a autossuficiência não pode ser um objetivo em si mesmo.
“É importante do ponto de vista da segurança energética, mas não adianta produzir por produzir. Por motivos econômicos e sociais, é preciso manter em atividade essa indústria”, diz.
Confortável com as reservas gigantescas do pré-sal, o país precisa “promover melhor” a exploração de áreas convencionais, avalia Prates. “Com a Petrobras ou outras empresas, temos de manter atividade em terra, em águas rasas, na selva, no sertão do Nordeste, estudar o gás de xisto”, defende.
Petróleo cai, mas gasolina sobe
O jornalista de economia, Fernando Jasper, explica por que a queda do preço do barril de petróleo não chega aos postos de combustíveis do país, e a gasolina continua aumentando.
Queda do barril e crise melhoram balança comercial
A queda das cotações do petróleo e a recessão melhoraram a balança comercial do setor. Embora as exportações de óleo e derivados tenham diminuído 34% no ano passado, as importações caíram ainda mais, cerca de 47%. Com isso, o déficit da “conta petróleo”, que havia chegado ao recorde de US$ 20,4 bilhões em 2013, caiu a US$ 5,7 bilhões em 2015.
Edmar de Almeida, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, não descarta que a conta petróleo se equilibre em breve – o que, para ele, é mais relevante que a “autossuficiência volumétrica”.
“A questão é se a Petrobras terá condições de manter esse equilíbrio. Isso exige investimento em refinarias, mas ela não tem recursos, e ampliação da produção de petróleo, em dúvida com a queda do barril”, diz. (FJ)
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