Nem a retomada do crescimento do PIB, nem o recorde na geração de empregos, muito menos a expansão do volume de crédito. Para o economista-chefe e diretor de pesquisas macroeconômicas do banco Bradesco, Octavio de Barros, o que melhor representa o bom momento da economia brasileira é a mudança de perspectiva dos investidores em relação ao país.
"Em 25 anos de carreira, nunca havia recebido uma demanda sobre o cenário brasileiro de longo prazo. Hoje, temos pilhas de pedidos de investidores internacionais querendo saber como será a economia em 10, 15 ou 20 anos. Antes, esses pedidos tinham a perspectiva de semanas ou meses", diz Barros, que esteve em Curitiba na última quinta-feira para uma palestra promovida pela Câmara Americana de Comércio (Amcham). O evento fez parte do "Programa Competitividade Brasil: Custos de Transação", que pretende reunir setor privado e academia para formular uma agenda de proposições que será apresentada aos candidatos à Presidência da República.
Segundo o economista, foi a conexão entre amadurecimento institucional e previsibilidade de negócios que deu ao país essa oportunidade. "Há dez anos, o Brasil não era reconhecido como uma liderança regional. Hoje é o queridinho do mercado e tem seu papel econômico e geopolítico consolidado."
Neste ano, até 22 de maio, a equipe econômica comandada por Barros monitorou 154 anúncios de investimentos com formação bruta de capital fixo [investimentos em ampliações, máquinas e equipamentos] no país, número recorde que ultrapassa a marca de qualquer ano anterior.
Projeção
A projeção do Bradesco confere um crescimento de 7% ao PIB brasileiro ao fim de 2010. A se confirmar, o número representará mais que o dobro da média de crescimento anual nos últimos 16 anos (3,1% ) e figurará como o terceiro melhor índice em todo o mundo, atrás apenas de China e Índia.
Segundo o economista, neste momento a economia está crescendo a um ritmo de 10% [taxa anualizada]. "O varejo cresce a 12%, sem considerar vendas de automóveis e materiais de construção, e a produção industrial 13%. O desemprego é o menor da série histórica do IBGE, o salário real tem ganho de 3%, a massa salarial de 6,7% e o crédito chega a 50%", diz. "Mas não se iludam: o país está crescendo acima do que pode e isso é insustentável. A economia brasileira vai desacelerar no segundo semestre." Entre os gargalos do crescimento, aponta o que chama de "infraestrutura africana" no Brasil. "Isso não impede o crescimento, mas custa caro para o empresário e acarreta a perda de competitividade."
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