Brasília O Brasil tem "bala na agulha" para enfrentar uma eventual crise nos mercados internacionais na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, passado esse período de turbulência, os investidores irão buscar aplicações com menor risco e o Brasil poderá ser um dos beneficiados.
"Eu acredito que esta turbulência não deve durar, mas se durar, nós temos muita bala na agulha para enfrentar a crise e, passada esta turbulência, o Brasil continuará sendo um dos endereços prediletos dos investidores, devido às condições que temos", afirmou ontem, no fim da tarde, ao sair do Ministério da Fazenda.
Pela manhã, o ministro havia afirmado que essa turbulência que atinge os mercados internacionais só poderia ser chamada de crise se atingisse a economia real, com impacto sobre o nível de atividade da economia e sobre o comercial entre os países.
O ministro afirmou que acredita que os investidores buscarão aplicações de menor risco passado esse período. Ele explicou que a volatilidade dos mercados nos últimos dias é conseqüência das operações que foram feitas no passado que, embora ofereçam rentabilidade maior, também tinham riscos mais elevados.
Após esse período de incerteza e turbulência, a tendência é a busca de aplicações mais seguras, afirma Mantega. "A lição que eles vão aprender é que precisam tomar mais cuidado com as aplicações e depois desta turbulência é possível que o Brasil seja até privilegiado, por apresentar condições de solidez e de rentabilidade, com um risco menor que esse que os investidores tomaram."
Ontem, os mercados de todo o mundo abriram em queda brusca após o banco francês BNB Paribas ter anunciado, na véspera, o congelamento dos saques de três fundos que aplicavam recursos em operações hipotecárias americanas.
Como há fortes indícios de inadimplência no mercado de "subprime" (empréstimos considerados de alto risco), os investidores têm receio de manter suas aplicações e preferem retirar seus recursos desses investimentos. A iniciativa provocou problemas de caixa em várias empresas e fundos que operavam esses créditos.
Mantega voltou a defender que o Brasil será pouco afetado porque o sistema financeiro nacional não possui operações no mercado de crédito imobiliário norte-americano. O ministro voltou a afirmar que os fundamentos da economia são sólidos para enfrentar a volatilidade, entre eles as reservas internacionais de quase US$ 160 bilhões. Informou ainda que o Tesouro não registrou nenhum movimento de venda anormal dos títulos brasileiros por parte dos investidores.
"Os bancos brasileiros estão sólidos. Acredito que eles não estão com o crédito "subprime" (...). Os bancos brasileiros estão apresentando margem e lucros elevados e têm outras alternativas de aplicação", afirmou o ministro.
Sobre o dólar, o ministro avalia que essa turbulência não irá desvalorizar o real. No entanto, admitiu que a subida da cotação do dólar deve ter "acalmado" setores que vinham reclamando da baixa cotação da moeda norte-americana.