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Crise elétrica

Brasil terá de conviver com risco de novos apagões

 | Divulgação/Copel

O governo adotou a tese de que uma falha técnica causou o desligamento de energia em 11 estados e no Distrito Federal na segunda-feira e diz trabalhar para que cortes assim não se repitam. Mesmo assim, é grande o risco de que o país volte a enfrentar blecautes localizados durante o verão, principalmente no meio da tarde, quando as temperaturas estão mais altas.

Como as usinas térmicas estão operando em capacidade máxima e os reservatórios das hidrelétricas estão nos menores patamares deste século, não há como aumentar a geração de energia no curto prazo. A demanda, por sua vez, cresce muito nos dias mais quentes, com o uso intenso de ar-condicionado. Assim, qualquer evento não programado – um problema em uma linha de transmissão ou em uma usina geradora, por exemplo – poderá obrigar o Operador Nacional do Sistema (ONS) a cortar parte do fornecimento a fim de evitar um colapso no sistema, como fez na segunda-feira.

"Eventos como esse podem se repetir, sim. Só não aconteceu antes, no sábado e no domingo, que foram dias ainda mais quentes, porque no fim de semana o consumo comercial e industrial é mais baixo", diz Mikio Kaway Jr., diretor executivo da consultoria e comercializadora Safira.

Usina Ney Braga

Na segunda-feira, as Regiões Sul, Norte e Nordeste, com energia excedente, estavam "exportando" para o principal subsistema do país, o Sudeste/Centro-Oeste. Mas, perto de 15 horas, houve um problema na transferência de energia que desligou automaticamente a usina Governador Ney Braga (Segredo), no interior do Paraná, de propriedade da Copel. Em seguida, outras 10 usinas também foram desconectadas de forma automática. Entre elas, a Governador Parigot de Souza, também no Paraná.

A "intercorrência", como definiu ontem o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, levou o ONS a interromper o envio de energia para alguns consumidores.

Embora qualquer sistema esteja sujeito a falhas, especialistas avaliam que o governo errou ao não adotar, em 2014 ou mesmo antes, medidas de incentivo à redução do consumo. Dessa forma, os reservatórios não teriam caído tanto e a folga entre oferta e demanda seria mais confortável. "A avaliação que foi feita no ano passado era de que o sistema apresentava condições para enfrentar esse risco. No entanto, chegamos a um cenário muito delicado", diz Joisa Saraiva, diretora do Centro de Regulação da Fundação Getulio Vargas (Ceri/FGV).

Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc, não acredita que o governo possa decretar um racionamento antes do fim de abril, quando termina o chamado "período úmido". O risco é que a situação se agrave até lá. Os lagos dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste continuam caindo e estão abaixo de 18% da capacidade, menos da metade do nível de um ano atrás.

A situação do começo de 2014 já inspirava cuidados, mas o governo preferiu esperar pela chuva a adotar ações de racionalização. "Torcer pela chuva é um risco muito grande, e paga-se um preço muito alto por ele. Previsão meteorológica de médio e longo prazo não existe", diz Vlavianos.

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