O executivo Reinaldo Garcia voltava de um programa de intercâmbio de lideranças da General Eletric (GE) na Arábia Saudita quando recebeu um telefonema com a notícia de que seria o presidente mundial da GE Grid Solutions, única empresa criada após a incorporação dos negócios de energia da Alstom. Assim que desligou o telefone, durante a conexão no aeroporto de Dubai, cancelou o voo para São Paulo e seguiu para Paris com a bagagem que tinha em mãos. No último dia 2, começou a trabalhar em um escritório que ainda tinha o logo da Alstom.
Os cerca de 400 funcionários foram ao auditório para conhecer o novo chefe. Em vez de saudações em inglês, Garcia surpreendeu com um francês impecável. “Eles não sabiam que eu falava francês”, contou Garcia ao jornal O Estado de S. Paulo, na sua primeira entrevista no cargo.
Essa é a quarta vez que Garcia se muda para a França. Ao todo, foram 14 anos no país até 2011, quando se mudou para São Paulo para assumir o cargo de CEO da GE para a América Latina. Mesmo no Brasil, continuou a praticar o francês diariamente. A esposa de Garcia é ucraniana e, como se conheceram em Paris, conversam até hoje em francês. “Era a única língua que nós dois falávamos na época.”
Garcia passou cerca de 30 de seus 55 anos morando no exterior. Quando adolescente, saiu de Ribeirão Preto (SP) para cursar o último ano da escola nos Estados Unidos. Queria ficar, mas não tinha visto. Voltou e cursou Direito na USP, ao mesmo tempo em que trabalhava de despachante de malas na Varig. Voltou para os Estados Unidos para cursar Economia na Universidade da Carolina do Norte.
Em janeiro de 1985, ingressou no programa de trainee da GE para a área de finanças nos Estados Unidos. Desde então, trabalhou na GE como líder regional em áreas como energia, iluminação e saúde nos Estados Unidos, França, Inglaterra e Brasil. Desta vez, será CEO global de uma unidade do grupo.
“O presidente mundial é um executivo com perfil multinacional. Tem de saber lidar com diferentes culturas e precisa de formação e experiência em diferentes países para chegar no topo”, afirmou Daniel Cunha, da consultoria de carreiras Exec.
Desafios
A empresa que ele vai comandar é responsável pela área de transmissão de energia, único negócio em que a Alstom era maior do que a GE – 80% da receita de US$ 6,2 bilhões da nova empresa vêm de ativos da companhia francesa. A GE também comprou os ativos de geração de energia da Alstom, mas eles foram incorporados a empresas da GE que já existiam.
A aquisição da Alstom foi a maior já feita pela GE, um investimento de US$ 10,6 bilhões e que levou 15 meses para ser aprovado pelas autoridades regulatórias europeias.
Com tranquilidade, Garcia explicou que seu desafio na empresa é “muito simples”. “É só fazer a empresa crescer e aumentar a margem de lucro.”
Ele disse que há uma grande oportunidade para a divisão com a integração com a área de geração da GE. “Hoje, 40% da energia mundial é gerada pela GE. Mas a maioria das unidades usa uma rede de transmissão que não é da GE”, explicou.
Antes de comprar os ativos da Alstom, a companhia não tinha oferta relevante no segmento para vender uma solução completa.
Experiência
A margem de lucro a empresa não abre, mas a receita da GE na América Latina dobrou na gestão de Garcia, saltando de US$ 5 bilhões em 2011 para US$ 9 bilhões. Garcia foi beneficiado por períodos de crescimento nos países latinos, especialmente do Brasil, e aproveitou. Ele trouxe para a região cargos técnicos que só existiam no exterior e ampliou a capacidade industrial da GE.
Garcia também implementou o primeiro centro de inovação global da GE no Rio e se envolveu nas negociações do patrocínio à Olimpíada em 2016. “É um projeto muito relevante para o grupo. Tanto que eu achei que iria para outra função só depois da Olimpíada”, disse.
Em janeiro, Garcia se muda definitivamente para Paris – por enquanto, está em um hotel. Ele disse que voltará frequentemente ao Brasil, que é um dos mercados-alvo da GE na área de energia. E uma viagem já está marcada. No dia 5 de agosto de 2016, abertura da Olimpíada, ele estará no Rio – e vai carregar a tocha olímpica.