O endividamento do brasileiro é recorde. No mês de abril, o montante total de débitos chegou a R$ 653 bilhões, o que, segundo a LCA Consultores, equivalente a 40% da massa de renda anual oriunda dos rendimentos trabalhistas e previdenciários pagos no país. Trata-se do maior valor desde o início da série histórica do estudo da LCA Consultores, em dezembro de 2005.
Mas as dívidas parecem não incomodar, uma vez que o consumidor está acreditando como nunca na economia do país. É o que sugere uma sondagem do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Depois de três meses consecutivos de queda, o chamado Índice de Confiança do Consumidor subiu de 115,4 para 118 pontos de maio para junho. A pesquisa também indicou a maior satisfação dos consumidores a respeito da situação financeira familiar desde o início da série histórica da pesquisa, em 2005, batendo os 120 pontos.
Segundo os especialistas, esse otimismo é perigoso porque reflete um entusiasmo do presente e deve levar a uma inadimplência maior nos próximos meses. "O brasileiro, animado com a taxa de desemprego baixa, de 6,4%, ainda não percebeu que o combate à inflação vai demandar um ajuste no mercado de trabalho. Está comprando sem pensar nesse cenário que nós, economistas, chamamos de futuro próximo, com economia desaquecida e mercado de trabalho um pouco pior, com taxas de desemprego voltando à casa dos 9%", avalia o professor de Economia da Universidade Positivo Lucas Dezordi.
Sinal amarelo
Em abril do ano passado, a dívida das famílias brasileiras era de R$ 524 bilhões, cerca de 36% da massa de renda anual, segundo o cálculo da LCA. O crescimento econômico do último ano o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 7,5% , com ganho de renda e crédito mais fácil e barato, foi o grande impulso para o aumento do endividamento.
Mas, para o autor da pesquisa da LCA, o economista Wermeson França, o montante atual das dívidas não é alarmante; é mais "um sinal amarelo". "Os dados revelam um pico do consumo até agora, com uma dívida que aumentou de tamanho também por conta do aumento de juros, mas que ainda está sustentada em uma boa base de pagamento, com o mercado de trabalho estável. O que se espera com isso, nos próximos meses, é que uma rigidez maior nas concessões de crédito por parte dos bancos e também o aumento na inadimplência tragam esses números novamente para baixo", avalia França.
O economista diz que parte do problema ainda é cultural: o consumidor brasileiro não aprendeu a enxergar os juros quando vai às compras, mesmo quando eles estão mais caros, como agora. "A parcela da renda só para o pagamento de juros está em 14%, quando no ano passado estava em 12%. Os prazos também encolheram; passaram de 80 meses para 60 meses, no caso da compra de automóvel. Ainda assim, o consumidor continua enxergando apenas o valor da parcela", explica.
Em termos macroeconômicos, o crédito ainda teria muito a crescer no país. A relação crédito/PIB está na casa dos 47%, enquanto que nos Estados Unidos e no Japão passa dos 180%. "Mas isso não deve ser exatamente parâmetro. As medidas para conter a inflação são necessárias no Brasil e vão, invarialmente, afetar o crescimento do país, ao menos por enquanto", avalia o professor de Matemática Financeira e Finanças do Ibmec Nelson de Sousa.