Remédios e livros são duas facetas antagônicas no desempenho do comércio varejista, que vem perdendo o vigor desde o início do ano passado. Enquanto o varejo de artigos farmacêuticos e médicos cresceu 6,3% nos 12 meses encerrados em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o de livros acumula uma retração de 21,7%.
“O fraquíssimo desempenho colocou esse segmento nos mesmos níveis de 2014”, diz Pedro Holloway, analista da Mapfre Investimentos.
O varejo de livros vive uma crise sem precedentes. Grandes players do segmento, como a Saraiva e a Cultura, estão em recuperação judicial. Outros, como a Lasselva, faliram.
A crise do segmento não se restringe ao Brasil. “É um fenômeno internacional puxado pela forma como a Amazon transformou a forma de vender livros”, diz Holloway.
Segundo ele, o varejo tradicional é penoso para as editoras. Elas dão adiantamentos aos autores dos livros, assumem custos como a impressão e a distribuição e o produto fica consignado nas livrarias, ou seja, há receita para as editoras apenas quando o produto é vendido.
Não bastasse isso, o analista da Mapfre Investimentos aponta que muitas redes investiram em grandes estruturas em shopping centers, o que acabou se mostrando custoso demais, mesmo com a venda de livros não sendo sujeita a impostos. “Isto acabou impactando negativamente, já que o comércio online não enfrenta o problema dos aluguéis e pode oferecer preços mais em conta.” E há o agravante de que o brasileiro lê pouco.
Outro aspecto que também afetou o segmento foi o desaquecimento da economia, que contribuiu para o aumento do desemprego. “Livros chegam a custar R$ 80, o que para quem está sem emprego pode fazer muita falta.”
Os e-readers também impuseram uma mudança na forma como se consome livros. “É outra faceta do efeito Amazon. Produtos como o Kindle e o Kobo facilitaram o acesso do leitor às obras, muitas vezes de forma instantânea.”
A demografia ajuda a explicar o sucesso das farmácias
Fatores demográficos ajudam a explicar o sucesso do segmento farmacêutico: a população brasileira está cada vez mais velha e está vivendo mais. Em 1991, 13,72% da população tinha mais de 50 anos. Em 2010, data do último censo, esse percentual tinha saltado para 20,45%. Naquele ano, uma pessoa de 50 tinha uma expectativa média de viver até os 74,2 anos. Em 2017, passou para 80,5 anos, segundo o IBGE.
“O aumento na qualidade de vida está relacionado ao aumento nos cuidados por parte da população”, diz Holloway. “O autocuidado cresceu. Para problemas simples, o consumidor sabe o que comprar”, exemplifica.
Outro fator que ajuda a explicar a expansão do segmento é uma questão estrutural: a maior capilarização. Ele lembra que uma das marcas desse fenômeno é a substituição das farmácias de bairro por lojas de grandes redes.
Apesar da grande presença - são mais de 160 mil estabelecimentos -, essa substituição está mudando o perfil delas. “Os sistemas de gestão empresarial e de gestão de estoques ajudam a ampliar a disponibilidade de medicamentos.”
E, para complementar, as grandes redes estão investindo em transformar farmácias e drogarias em um espaço mais agradável para os clientes. Holloway destaca que apesar de o foco se manter na venda de remédios, elas também estão vendendo mais itens de higiene e de cuidados pessoas e, muitas delas, passaram a atuar também como uma espécie de lojas de conveniência.
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