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A crise econômica causada pela pandemia e seus reflexos mudaram o perfil de gastos do brasileiro. Ele está gastando mais com energia e combustíveis e menos com tevê por assinatura, celular e roupas. A constatação é de levantamento feito pela FSB Pesquisa para a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Conforme a pesquisa, 59% das famílias estão gastando mais com a conta de luz. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos 12 meses encerrados em março, a fatura teve um aumento médio de 28,52%, enquanto a inflação geral foi de 11,30%.
Os problemas climáticos registrados no ano passado, com falta de chuvas, obrigaram o governo a instituir a bandeira de escassez hídrica, um sobrepreço cobrado nas contas de luz, que foi revogado no dia 16. Com isso, a conta de luz deve – pela primeira vez em muito tempo – puxar para baixo a inflação em maio.
Outras contas que estão pesando mais no orçamento doméstico são o gás de cozinha e o combustível: 56% das famílias estão gastando mais para fazer a comida e 50%, para encher o tanque.
Dados do IBGE mostram que o gás de cozinha ficou 29,56% mais caro nos últimos 12 meses e a gasolina, 27,48%. A principal razão foi o aumento no preço do barril do petróleo, inicialmente causado pelos desdobramentos da pandemia da Covid-19 e, posteriormente, reforçado pela invasão russa à Ucrânia, que começou no fim de fevereiro.
O gás de cozinha teve seu preço reduzido em 5,58% para as distribuidoras no dia 8, mas essa queda ainda não chegou totalmente ao consumidor. Pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizada entre os dias 10 e 16, sinaliza para uma estabilidade nos preços cobrados pelo botijão de 13 quilos. O preço médio da gasolina, por sua vez, teve uma variação de 0,37% na última semana.
Alimentos também estão pressionando o orçamento doméstico. Apesar de o arroz e o feijão terem ficado mais baratos nos últimos 12 meses, segundo o IBGE, os preços tiveram fortes altas durante a pandemia.
Frutas, legumes e verduras também estão mais caras por causa de questões climáticas pontuais. As primeiras tiveram uma alta média de 14,48% em um período de 12 meses, com destaque para as altas da laranja-baía (34,21%), do mamão (54,95%) e da melancia (66,42%).
Os legumes tiveram um aumento de 55,9%. Os grandes vilões foram alguns itens com forte presença na mesa dos brasileiros. A cenoura aumentou 166,17%; o tomate, 94,55% e o pimentão, 80,44%.
As hortaliças e verduras também estão pesando mais nas contas. Elas aumentaram, em média, 33,29%, com destaque para o repolho (64,79%), a alface (38,92%) e a couve-flor (27,66%).
Roupas e calçados e tevê por assinatura estão entre os itens que mais sofreram com a revisão dos gastos das famílias: 42% delas disseram ter reduzido os gastos com vestuário e 43% cortaram despesas com tevê por assinatura.
Para contrabalançar o aumento das despesas com alimentação e combustíveis, o brasileiro também reduziu gastos com itens como materiais de construção, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
Percepção dos impactos da inflação é maior no bolso
A percepção do ataque da inflação ao bolso dos brasileiros é grande: segundo o levantamento, 95% das pessoas disseram ter notado aumento nos preços nos últimos seis meses. Na última edição, em novembro, essa percepção era de 73%. Essa avaliação ocorre independentemente do sexo, da idade, da escolaridade, da renda familiar e de onde o consumidor mora.
A maioria acredita que os preços continuarão subindo nos próximos seis meses – dois de cada três entrevistados têm essa expectativa. Com isso, 85% das pessoas pretendem manter ou diminuir os gastos de agora em diante.
A pesquisa mostra que 64% dos consumidores já adotaram esta prática. Ela foi adotada com maior força por quem tem entre 25 e 59 anos, ensino superior, mora em regiões metropolitanas (exceto a capital) e tem uma renda familiar de até dois salários mínimos.