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149 dias no ano: brasileiro trabalha até este sábado apenas para pagar impostos de 2021
| Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Do início do ano até este sábado (29), o contribuinte brasileiro terá trabalhado exclusivamente para pagar impostos, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O cálculo leva em conta a média de impostos federais, estaduais e municipais que incidem sobre renda, patrimônio e consumo e que correspondem a 40,82% do rendimento médio do país – é essa a fração do ano que, segundo o IBPT, o brasileiro destina para satisfazer as necessidades de arrecadação do Estado.

Os 149 dias do ano necessários para o pagamento de tributos – o dinheiro dos outros 216 "fica" com o contribuinte – representam uma redução de carga tributária em relação a 2020 e a 2019, quando seriam necessários, nessa analogia, 151 e 153 dias, respectivamente. “Essa diminuição ocorre em virtude da pandemia do novo coronavírus, que proporcionou uma retração econômica no país e, portanto, menos circulação de mercadorias e produtos e, consequentemente, menor arrecadação tributária”, explica João Eloi Olenike, presidente executivo do IBPT.

Isso porque 56,2% dos tributos recolhidos no Brasil incidem sobre consumo. Impostos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS correspondem a 22,97% da renda do brasileiro, enquanto a tributação sobre renda impacta em 14,86%, e sobre patrimônio, em 2,99%. Os porcentuais referem-se ao rendimento médio do brasileiro, e quem tem menor poder aquisitivo acaba pagando proporcionalmente mais, lembra Olenike. “Temos uma tributação muito excessiva em cima do consumo, o que acaba gerando uma regressividade”, diz.

De acordo com o levantamento do IBPT, a média de dias trabalhados para pagamento de impostos em 2021 é superior ao dobro do calculado na década de 1980. Em 1988, a carga tributária equivalia a 73 dias.

Dias trabalhados para pagar tributos de 1986 a 2021

AnoDias trabalhados para pagar tributosMeses1986822 meses e 22 dias1987742 meses e 14 dias1988732 meses e 13 dias1989812 meses e 21 dias19901093 meses e 19 dias1991903 meses1992933 meses e 3 dias1993923 meses e 2 dias19941043 meses e 14 dias19951063 meses e 16 dias19961003 meses e 10 dias19971003 meses e 10 dias19981073 meses e 17 dias19991153 meses e 25 dias20001214 meses e 1 dia20011304 meses e 10 dias20021334 meses e 13 dias20031354 meses e 15 dias20041384 meses e 18 dias20051404 meses e 20 dias20061454 meses e 25 dias20071464 meses e 26 dias20081484 meses e 28 dias20091474 meses e 27 dias20101484 meses e 28 dias20111494 meses e 29 dias20121504 meses e 30 dias20131504 meses e 30 dias20141515 meses20151515 meses20161535 meses e um dia20171535 meses e dois dias20181535 meses e dois dias20191535 meses e dois dias20201514 meses e 30 dias20211494 meses e 29 dias

Fonte: IBPT

Na comparação com outros 26 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a partir de dados de 2019, o Brasil ocuparia a nona colocação em termos de carga tributária.

“Países da Europa, especialmente os nórdicos, têm uma tributação maior do que a nossa, mas lá a carga se justifica pela alta qualidade dos serviços públicos oferecidos”, diz o presidente do IBPT. “Aqui, apesar da alta incidência de impostos, temos que acabar pagando, na iniciativa privada por serviços que, pela ineficiência governamental, não temos, como assistência médica particular, segurança privada, pedágio, educação.”

Dias trabalhados para pagar tributos por país (2019)

PaísDias trabalhados para pagar tributosDinamarca179 DiasBélgica171 DiasFrança163 DiasFinlandia159 DiasNoruega159 DiasÁustria158 DiasSuécia156 DiasItália156 DiasBrasil (2021)149 DiasAlemanha148 DiasIslândia147 DiasEslovênia143 DiasHungria143 DiasReino Unido142 diasEspanha136 DiasArgentina136 DiasIsrael134 DiasNova Zelândia126 diasCanadá117 DiasIrlanda112 DiasMéxico108 DiasJapão103 DiasSuiça99 DiasCoréia98 DiasUruguai84 DiasEstados Unidos74 diasChile68 Dias

Fonte: IBPT

Reforma tributária não deve reduzir carga de impostos, diz presidente do IBPT

Para Olenike, a discussão sobre reforma do sistema tributário brasileiro, nos termos em que está posta, não deve alterar a carga de impostos para o contribuinte. “O que estamos vendo é que, nas três propostas [PECs 45 e 110 e PL 3.887], há uma previsão de neutralidade, ou seja, que não haja aumento nem diminuição, mas fala-se em um limite de 35% do PIB para a carga tributária, o que é um patamar muito alto.”

“Tínhamos que ter uma carga menor, mas isso é impossível sem fazer primeiro a reforma administrativa, para cortar os gastos excessivos do governo. Eliminando-se os gastos, haveria superávit mesmo com redução na arrecadação”, diz. “Mas os gastos públicos sempre aumentam, especialmente em despesas correntes, ou seja, com funcionalismo público, pagamento de dívida, previdência e assistência social, e sobra muito pouco para investimentos que melhorem a qualidade de vida da população.”

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