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O empresário curitibano Percy Tiemann, de 49 anos, faz parte de uma minoria brasileira. Está no grupo dos que podem escolher qualquer país para passar as férias, dormir em uma suíte grande o suficiente para abrigar um apartamento popular e levar o que e quanto quiser de uma loja de roupas, sem ter de olhar o preço. "Não nego que tenho dinheiro. Nos Estados Unidos, o rico é visto como um exemplo a ser seguido. Aqui no Brasil parece que é vergonhoso. Mais que um milionário, eu me considero um vencedor que desfruta daquilo que adquiriu com seu trabalho", diz ele.

Tiemann soma ponto para o Brasil na estatística internacional de afortunados. O país tinha no ano passado 109 mil milionários – o equivalente a pouco mais que 0,05% de sua população total (187 milhões, pelas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE). O dado é do Relatório de Riqueza Mundial 2006, levantamento feito pelo conglomerado de investimento Merrill Lynch e pela consultoria Capgemini. Os brasileiros equivalem a pouco mais de 1,25% da população global de milionários – 8,7 milhões de abastados, cuja fortuna somada é de US$ 33 trilhões.

Não é qualquer vencedor de Big Brother, premiado com R$ 1 milhão após semanas de confinamento, que entra para a estatística internacional de riqueza. Para somar números ao relatório, é preciso ter pelo menos US$ 1 milhão de patrimônio líquido (descontada a residência principal e bens consumíveis). A quantidade de brasileiros nestas condições cresceu 11,3% no ano passado. Em 2004 havia 98 mil milionários no país. Estamos acima da média global, em termos de variação: no mundo, o número de milionários aumentou 6,5% em 2005.

Os milionários do Brasil parecem estar imunes ao insuficiente crescimento econômico do país. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3%, abaixo da média mundial, a variação de milionários no Brasil foi a décima maior do mundo. "Seria mais natural se a quantidade de ricos crescesse acompanhando uma expansão na produção. Essa falta de vínculo com o desempenho da economia indica que boa parte desta população tem riqueza em forma de investimentos financeiros, não produtivos", avalia o professor do Instituto de Economia da Unicamp Márcio Pochmann. Para o economista, um especialista em distribuição de renda no Brasil, a riqueza baseada em títulos financeiros representa um descolamento entre o indivíduo e o país. "Ele passa a fazer parte de uma classe mundial. Se a taxa de lucro aqui não é favorável, ele investe fora. A reprodução da riqueza individual não depende de que o país cresça também. O investidor não trabalha por isso."

No texto do relatório, os organizadores do levantamento atribuem o aumento do número de milionários brasileiros à alta produção de commodities, ao bem sucedido gerenciamento da inflação, ao superávit comercial e à valorização da moeda brasileira. Neste último caso, não teria havido necessariamente um enriquecimento real dos brasileiros, mas uma ampliação, com a conversão da moeda, do patrimônio acumulado em dólares. Com um câmbio próximo aos R$ 2 por dólar, é preciso menos em reais para alcançar a linha de corte da Merrill Lynch – o que permitiu a um maior número de brasileiros ricos em reais entrar para o seleto grupo dos ricos de padrão internacional.

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