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A nova pesquisa Quaest divulgada nesta quarta (8), que aponta um empate técnico entre a aprovação e a desaprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também mostra uma percepção de desconfiança com o caminhar da economia brasileira.
Embora haja uma estabilidade da quantidade de brasileiros que acredita que a economia piorou nos últimos 12 meses (38% agora e na pesquisa de fevereiro) e de um leve aumento nos mais otimistas (26% para 27%), a percepção de piora no desemprego e nos preços dos alimentos e serviços ainda é grande entre os entrevistados.
Segundo apontam os números da Quaest, 43% dos brasileiros acreditam que o desemprego aumentou no país, 62% que as contas de água e luz subiram, 48% que o combustível está mais caro e 73% que os alimentos também subiram. Veja abaixo a evolução da opinião dos brasileiros:
Essa percepção, no entanto, é vista por Felipe Nunes, diretor da Quaest, como um “descolamento da realidade” e dos “números oficiais”. Para ele, as pessoas têm essa percepção mesmo com os índices econômicos mostrando o contrário.
“A gente chama de dissonância cognitiva, que é a capacidade que estamos cada vez mais constatando de fugir dos dados com os quais elas não concordam e ignorar informações factuais. [...] Embora os dados oficiais sejam positivos, o patamar para onde se parte para essa melhora ainda não é suficiente para gerar uma sensação de melhora”, disse em entrevista à GloboNews.
Nunes compara essa situação vivida no Brasil com o que se vê nos Estados Unidos, em que mesmo com índices oficiais mostrando uma melhora na economia, a percepção não consegue efetivamente chegar nas pessoas.
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Ele explica que houve um controle da inflação nos últimos anos, mas o histórico de tantos anos negativos faz com que o poder real de compra das pessoas está abaldado. “E me parece que vai demorar ainda bastante tempo para que a realidade se imponha e as pessoas de fato possam sentir algo”, completou.
Essa percepção da redução do poder de compra dos brasileiros vem aumentando, segundo a Quaest, desde julho de 2023, quando havia um empate técnico. Desde então, a avaliação de que houve uma diminuição aumentou 66 pontos porcentuais, passando de 31% para 67%, enquando que os que acreditam que houve uma melhora reduziu 22 pontos, de 31% para 19%.
Nunes aponta, ainda, que essa percepção de piora da economia está fortemente ligada com a questão ideológica, o que indica a permanência da polarização política no país. A sensação mais pessimista é maior entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com 69%, enquanto que os de Lula são mais otimistas (48%). Veja abaixo:
Para ele, o desafio do governo é conseguir convencer os eleitores que votaram em branco, nulo ou não votaram, em que 39% acreditam que houve uma piora na economia, 17% que melhorou e 40% que ficou do mesmo jeito.
“Esse efeito de torcida dos dois lados faz com que estejamos vivendo uma realidade paralela. O eleitor do Lula está satisfeito, animado, é verdade que já esteve mais animado com a economia, [...] por outro lado, os eleitores de Bolsonaro dizendo que as coisas não estão tão bem”, pontuou.
Embora a percepção de piora da economia nos últimos 12 meses seja preocupante, a expectatica para os próximos melhorou – mas, dentro da margem de erro. Os que acreditam que vai piorar passaram de 31% para 30%, enquanto que os mais otimistas passaram de 46% para 48%.
A pesquisa foi realizada presencialmente com 2.045 brasileiros maiores de 16 anos em 120 municípios entre a última quinta (2) e esta segunda. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.