Quando decidiu ir para Inglaterra, há 10 anos, o carioca Henrique Olifiers foi com “a cara e coragem” para trabalhar em uma empresa desenvolvedora de jogos para celular em Cambridge. Em 2010, optou pela carreira solo e com sua mulher, Roberta Lucca, e outro sócio, o húngaro Imre Jele, criou a Bossa Studios, uma empresa desenvolvedora de games para diversas plataformas.
O sucesso veio rápido. Dois anos após sua fundação, a Bossa ganhou um Bafta (considerado o Oscar britânico) pela criação do game para rede social Monstermind. Olifiers, de 43 anos, que começou sua empresa do zero, emprega hoje cerca de 40 pessoas, de 12 nacionalidades diferentes, e tem no mercado cerca de 10 jogos. Ele faz parte de uma geração de empreendedores da chamada “indústria criativa”, alvo de interesse do governo do Reino Unido.
A empresa tem sede na chamada Tech City, antigo bairro desvalorizado de Londres que virou polo de empresas de tecnologia. Com cerca de 4,5 mil empreendedores, a região tem a ambição de ser um “Vale do Silício” – polo de startups da Califórnia, nos EUA, e berço de gigantes como Google e Facebook. Olifiers não divulga o faturamento da Bossa, mas diz que o carro-chefe da empresa, o Surgeon Simulator já vendeu 2,5 milhões de cópias (receita acumulada de cerca de US$ 60 milhões). A empresa não é mais considerada uma startup, mas é referência para empreendedores que querem expandir no Reino Unido.
Na primeira semana de fevereiro, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) levou para o Reino Unido um grupo de jovens empreendedores brasileiros do Programa InovAtiva, que incentiva startups.
Dois projetos brasileiros chamaram a atenção do empresário inglês Andrew Humphries, que ajuda a agência britânica de comércio e investimento (UKTI) a selecionar talentos. Um deles é a UkkoBox, que tem entre os sócios Rafael Libardi, que desenvolveu um programa de armazenagem de dados para pequenas e médias empresas, dividido em vários arquivos criptografados que evitam a invasão de hackers.
Libardi já se instalou em Londres, com a ajuda de uma aceleradora (que dá suporte a startups). O outro projeto é do engenheiro Lincoln Lepri, que desenvolveu o Snake Robot, um robô cobra que entra em asas de avião para trabalhos até então feitos manualmente em locais considerados insalubres. Lepri está à procura de um investidor-anjo para tocar seu projeto fora do país.
Londres é a grande vitrine para marcas brasileiras
No turística região de Covent Garden, uma loja da Melissa, do grupo Grendene, exibe suas sandálias de plástico cheias de estilo. A loja, que funciona como uma “flagship” (loja conceito), não está ali por acaso: quer atrair a atenção dos milhares de estrangeiros que circulam na região.
É o mesmo caso da joalheria H. Stern, fundada pelo alemã Hans Stern em 1945, que decidiu expandir seus negócios no exterior nos anos 60. A H. Stern ostenta uma loja dentro da rede de luxo Harrods e mantém uma loja de rua em uma das regiões mais caras de Londres.
Já a famosa Havaianas (adquirida pela J&F, holding dona do JBS), com vendas sazonais (no verão), que tem uma presença mais forte em Portugal e Espanha, quer se expandir no Reino Unido.
Incentivo
Após a crise financeira global, em 2008, o governo britânico intensificou seu programa para atrair investimentos para a região. Por meio do UKTI, presente em mais de 100 países, busca empresas de diversos países para atuar e em setores considerados estratégicos, como tecnologia da informação, ciências da vida e aeroespacial, por exemplo.
De acordo com o coordenador do UKTI para países emergentes, Daniel King, EUA, China e Índia estão entre os maiores investidores diretos do Reino Unido, mas o bloco quer atrair outros países. “O Reino Unido tem uma economia estável e uma plataforma de expansão global. Os impostos aqui são competitivos comparados a outros países (taxa corporativa de 20%), além de leis trabalhistas mais flexíveis.”
King reconhece que as empresas da Inglaterra, que liderou a revolução industrial a partir dos séculos 18 e 19, migraram para países com custos de produção mais baixos. “Queremos atrair empresas e talentos que agreguem conhecimento. Não apenas capital especulativo ou investidores do mercado imobiliário.” Em 2014, o grupo Safra, da família do banqueiro brasileiro Joseph Safra, adquiriu o icônico prédio Gherkin por R$ 3 bilhões.
Para atrair investidores do Brasil, a equipe de investimento do UKTI, que tinha atuação apenas em São Paulo, abriu escritório no Rio de Janeiro no ano passado, ampliando sua estrutura para selecionar potenciais empresas que possam investir fora.
Uma vez detectado o potencial investidor, o UKTI conta com o apoio de agências de promoção que dão suporte na Inglaterra, como a London & Partners, para investir em Londres, e outras, como a Manchesters Investment and Development Agency (Midas), e Invest Liverpool, cidades do norte da Inglaterra, importantes polos industriais e opções mais baratas para quem não quer investir em Londres.
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