Após certa calmaria entre agosto e setembro, o dólar voltou a subir nas últimas semanas, influenciado pelo temor de crise fiscal no Brasil. E ganha impulso extra com as preocupações sobre o impacto, na economia global, da disseminação da Covid-19 na Europa e nos EUA. A alta tem uma série de efeitos sobre o cotidiano de empresas e pessoas. Para exportadores, ela é boa. Para quem compra matéria-prima ou produto importado, é ruim – com isso, afeta a inflação e pressiona os juros. Quem deve em dólar é obviamente prejudicado. Mas, para o governo federal, a cotação mais alta tem um lado excelente.
Ao contrário do que ocorria décadas atrás, hoje o grosso da dívida pública é "interna", em reais. A "externa", em moeda estrangeira, é relativamente baixa. Além disso, como as reservas internacionais do país são cotadas em dólar, a valorização da divisa norte-americana eleva o valor, em moeda brasileira, desse estoque – e esse ganho pode ser usado periodicamente no abatimento da dívida pública.
Recentemente o Banco Central foi autorizado a repassar R$ 325 bilhões para o Tesouro usar na gestão da dívida. Esse dinheiro é parte do lucro obtido, no primeiro semestre, com a valorização das reservas. Se o avanço do dólar persistir, nova transferência poderá ser feita mais adiante. De janeiro a junho, o dólar comercial medido pela taxa Ptax deu um salto de 36%. Do início de julho até 28 de outubro, o avanço acumulado foi de 5%.