A Brasil Foods trabalha com a expectativa de que o conselheiro Ricardo Ruiz, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), adie o seu voto na sessão marcada para quarta-feira e dê mais tempo para a companhia negociar com o órgão antitruste uma aprovação, com restrições, da incorporação da Sadia.
É nisso que focam os executivos da companhia em negociações junto ao Cade, para obterem a aprovação da operação com um "remédio" que não seja tão amargo, disse uma fonte próxima da situação.
Na semana passada, o relator do processo da Brasil Foods no Cade, Carlos Emmanuel Ragazzo, votou contra a aprovação da união da Sadia com a Perdigão e pediu que o negócio bilionário que criou a maior exportadora mundial de aves fosse desfeito.
A decisão fez as ações da companhia perderem cerca de 10 por cento do valor em dois dias e colocou em risco o futuro de uma das maiores companhias globais no processamento de proteína animal.
"Trabalha-se fortemente para demonstrar os argumentos para o Cade que viabilizem a aprovação, com restrições, dessa operação", afirmou a fonte, que prefere não ser identificada nem dar mais detalhes das negociações com o objetivo de não influenciar uma decisão do conselheiro.
Questionada sobre se a eventual aprovação, com restrições, incluiria a hipótese de se desfazer da marca Sadia, a fonte respondeu:
"O que se discute com o Cade são os problemas que ele identificou na operação. Tenta-se, com isso, analisar o melhor remédio, não vou falar especificamente sobre o remédio".
Mas o fato de o conselheiro Ruiz ter pedido vista no julgamento da semana passada encheu a BRF de esperança.
"Tem que trabalhar com os fatos. O fato de um conselheiro ter pedido vista é positivo", afirmou a fonte, lembrando que a reunião dos executivos da empresa com conselheiros do Cade, na segunda-feira à noite, mostra que "o diálogo está aberto"."Os fatos dão esperança e colocam a expectativa de ter amanhã uma decisão que dê mais tempo (para a empresa negociar)."
Mais tempo a conselheiros
Do ponto de vista regimental no Cade, os conselheiros podem adiar as sessões em mais de uma oportunidade.
Pelo sistema do Cade, somente o conselheiro relator --no caso Carlos Emmanuel Ragazzo, que votou pela reprovação do negócio --tem acesso ao processo durante a sua tramitação, lembrou a fonte.
"Seria muito salutar, saudável, que os demais conselheiros tivessem a oportunidade. O conselheiro relator teve dois anos com o processo e um ano exclusivamente dedicado ao processo. Acreditar que os demais poderiam se inteirar em uma semana é muito difícil", avaliou.
Questionado sobre o prazo para a definição do caso, a fonte afirmou não haver uma regra específica e disse que isso dependeria da agenda de sessões do Cade.
Mas a fonte destacou também que confia plenamente que o caso poderá ser resolvido no Cade, e que a BRF buscará evitar entrar na Justiça, como já afirmou o presidente da companhia, José Antonio Fay, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo, na semana passada.
"É esse o objetivo da companhia, e isto está muito claro, há o firme interesse da companhia em resolver a questão no Cade, pacificar a questão na esfera administrativa", disse a fonte, admitindo que um processo judicial poderia levar anos e não seria esse o melhor caminho.
Governo descontente
Uma fonte do governo afirmou à Reuters que o governo ficou "furioso" com o duro voto do relator na semana passada, porque isso vai contra tudo o que foi feito nos últimos anos dentro da estratégia do governo para que o Brasil construa companhias multinacionais.
A fonte do governo também avaliou que a companhia tem que se conformar com o fato de que terá que vender alguns ativos para ver o negócio aprovado e informou que existe pouco que o Executivo possa fazer diretamente, devido à independência do órgão antitruste.
"O que posso dizer é que a operação beneficia o país de uma forma geral, não temos dúvidas de que a operação traz benefícios para todos os stakeholders, e o governo não pode fechar os olhos para isso", disse a primeira fonte.
Sobre o fato de a BRF ter eventualmente evitado a falência da Sadia, afundada em dívidas após prejuízos com derivativos cambiais, a fonte avaliou que isso não pode ser ignorado, embora do ponto de vista da análise antitruste isso não deva pesar na decisão do Cade.
As ações da companhia fecharam em alta de 1,6 por cento, enquanto o Ibovespa subiu 0,3 por cento.