Dilma e os líderes dos Brics: poucos avanços, muitas intenções| Foto: Roberto Stuckert Filho

Emergentes querem mais espaço no FMI

Os Brics pediram que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisem urgentemente seus sistemas de cotas para salvaguardar os interesses de nações mais pobres. O pedido por mudanças nas cotas que representam o peso de voto dos países membros é parte de um esforço por uma reforma mais ampla do sistema financeiro mundial que reflita o crescente peso econômico das nações emergentes.

As discussões para ajustar o sistema de cotas deverão ser realizadas em 2014. Os EUA, principal país doador para agências multilaterais, ainda não se posicionaram sobre as propostas de dar direitos de votos maiores aos emergentes. "Nós reconhecemos a importância da arquitetura financeira mundial na manutenção da estabilidade e integridade do sistema monetário e financeiro global", afirmaram os líderes dos Brics na "Declaração de Délhi".

No comunicado, os Brics também expressaram preocupações sobre o ritmo lento das reformas no FMI. O grupo pediu que os líderes do Fundo e do Banco Mundial sejam escolhidos em um processo aberto e com base no mérito.

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Os bancos de desenvolvimento de Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul assinaram ontem um acordo com definição das regras gerais para a concessão de linhas de crédito em moeda local, com o objetivo de aumentar o comércio entre os Brics. Com isso, se a empresa de um país quiser investir em outro país do grupo, o seu banco de desenvolvimento repassa o valor do investimento para o banco de fomento local, que empresta o dinheiro para a empresa tocar seu negócio, facilitando a internacionalização dos investimentos.

O acordo tem o objetivo de reduzir o papel do dólar no comércio entre os países. O presidente russo, Dmitry Medvedev, havia defendido ontem um aumento nas transações em moeda local entre os Brics. Mais cedo, o presidente do maior banco de desenvolvimento estatal da Rússia disse que Moscou e Nova Délhi vão promover comércio em moedas locais em três anos.

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A iniciativa dos bancos foi uma das poucas medidas concretas que surgiram no encontro dos Brics, encerrado ontem na Índia. A proposta de criação de um banco de desenvolvimento para financiar projetos de infraestrutura nos Brics ficou apenas no terreno das intenções. No documento final, os cinco países criaram um grupo de trabalho para discutir a proposta, mas o desejo do presidente sul-africano Jacob Zuma de que o banco saísse do papel no ano que vem tem remota chance de acontecer. O novo banco não deve surgir antes de 2014. A ideia do que poderia ser chamado de "banco dos Brics" era oferecer financiamentos para os países do grupo, em alternativa ao Banco Mundial e FMI, para suprir a limitação atual de investimento.

Preocupação

O documento divulgado em Nova Délhi, ao fim do encontro dos Brics, mostra a "preocupação com a situação econômica global" e alerta para a "instabilidade dos mercados, principalmente na zona do euro". Também fala em preocupação com o clima de incerteza em relação ao crescimento mundial, provocado pelos fortes ajustes fiscais nos países mais ricos e pelo crescimento da dívida pública.

Os países pregam ainda a necessidade de vencer barreiras que pararam o comércio, pois todos os integrantes dos Brics estão sofrendo com a redução do crescimento de suas economias nos últimos anos. Um discurso, no entanto, animou os participantes. O presidente chinês, Hu Jintao, mesmo ressaltando que existem muitos desafios pela frente, anunciou a disposição de manter um desenvolvimento sustentável e prometendo "crescimento forte" para a China. A próxima reunião dos Brics será na África do Sul.