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Curitiba – Uma briga judicial digna dos velhos filmes de gângster anda percorrendo as cortes de Curitiba. A princípio, parecem monótonos processos em torno do uso de uma marca e do direito de importação de um produto de alto custo. De perto, as desavenças entre a companhia paulista Puro Cigar de Habana e comerciantes paranaenses revelam-se povoadas por personagens exóticos e acusações pesadas.

Os processos começaram em 2003, dois anos depois que o chefão da Puro Cigar começou a se apresentar como representante exclusivo dos "puros" cubanos, os charutos mais admirados do mundo, enrolados manualmente em Cuba e reconhecidos pela aura de sofisticação que exalam junto com sua fumaça densa. A Puro Cigar e a Corporación Habanos, companhia meio cubana, meio européia que tem o monopólio de produção do charuto cubano, acusaram empresas de Curitiba de procedimentos irregulares. A distribuidora Havanosul estaria, segundo eles, importando charutos de forma "paralela". E a tabacaria que funciona no prédio do Hotel Bourbon estaria usando sem autorização a marca da "La Casa del Habano", que é exclusiva da Corporación.

Por trás da Puro Cigar e dos seus processos está um personagem exótico. Italiano de nascimento, Nunzio D'Angieri é o embaixador no Brasil da pequena República de Belize, que fica na América Central. O endereço de sua missão diplomática é em Genebra, na Suíça, mas seu campo de negócios é o Brasil – apesar de a Puro Cigar ser controlada por uma empresa sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Em São Paulo, o descrevem como um homem que anda sempre acompanhado por seguranças armados, apresenta-se como amigão de Fidel Castro e apadrinhado de Yasser Arafat, o líder da Palestina que morreu no ano passado. Puppi, como é chamado pelos amigos, é acusado de usar sua imunidade diplomática para abrir caminho no setor tabaqueiro.

O empresário curitibano Veríssimo Cubas foi o alvo das ações e acabou saindo do ramo tabaqueiro após a investida da Puro Cigar. Ele abriu a Havanosul em 1998 e comprou produtos diretamente da Corporación Habanos até 2001, quando a concorrente entrou no páreo e conquistou a exclusividade. Uma das condições para que ele pudesse importar era a abertura de uma franquia da La Casa del Habano, uma rede criada pela companhia cubana para vender seus charutos. A loja foi montada em um espaço alugado pelo Hotel Bourbon.

"Até 2001, não existia exclusividade. Três empresas compravam diretamente de Cuba", conta Veríssimo. Quando a Puro Cigar fechou o contrato com a Habanos, o empresário curitibano tinha um estoque de 10 mil caixas. Elas foram esgotadas no ano passado.

A loja foi vendida por R$ 30 mil para os atuais donos em 2002, após o término do contrato de franquia, e continua a vender charutos de diversos países, inclusive de Cuba. A Puro Cigar diz que o novo nome da loja, "La Casa del Tabaco", precisa ser mudado. "São expressões muito parecidas e com logomarcas semelhantes, o que pode induzir o consumidor ao erro", argumenta Luiz Araripe, advogado da Puro Cigar. As duas marcas usam caracteres inseridos em um símbolo no formato de um charuto e com uma ponta estilizada, como se estivesse acesa.

No processo contra a Havanosul, a Puro Cigar obteve um mandado judicial para que os livros da importadora fossem verificados pela Receita Federal. O laudo dos peritos diz que não houve fraude na gestão dos estoques da empresa e que a compra dos charutos foi legal. Agora, Veríssimo diz que só volta a trabalhar com charutos se a empresa de Nunzio D'Angieri sair. As especulações no mercado dos puros é que diretores da Corporación Habanos ficaram descontentes com o comportamento do italiano e querem voltar a vender para outros distribuidores.

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