Uma guerra comercial entre Japão e Coreia do Sul pode atingir em cheio setor global de tecnologia.| Foto: AFP

A Coreia do Sul fez nesta quarta-feira um alerta de “emergência sem precedentes” em suas relações com o Japão, num momento em que ressentimentos sobre desavenças históricas entre os dois países ameaçam se transformar numa guerra comercial declarada, com possíveis danos sobre a indústria global de eletrônicos.

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A disputa decorre da sentença de um tribunal de Seul, no ano passado, que determinou que empresas japonesas têm de pagar pelo trabalho forçado imposto a sul-coreanos no período de domínio colonial nipônico na península coreana, de 1910 a 1945. O Japão alega que a compensação pelo trabalho escravo foi totalmente resolvida no pacto de 1965 que restabeleceu os laços diplomáticos entre os dois países, apesar de alguns coreanos terem prosseguido com ações individuais na Justiça.

Irritado com a decisão judicial, o Japão impôs na semana passada restrições sobre a exportação de insumos utilizados por empresas sul-coreanas na fabricação de chips de celulares e outros produtos tecnológicos que estão entre os principais itens de exportação do país, incluindo alguns itens utilizados em aparelhos da Apple. As autoridades japonesas também acusam Seul de fazer pouco caso do acordo internacional para restringir o comércio com a Coreia do Norte.

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“Em relação às questões dos trabalhos forçados em tempos de guerra, está claro que a Coreia do Sul não cumpre os tratados internacionais. É natural concluir que o país também não mantém suas promessas de controlar o destino de suas exportações”, declarou o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe durante um talk-show no último domingo.

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Há tempos os atritos frequentes entre os vizinhos asiáticos têm sido uma fonte de frustrações para Washington. Os Estados Unidos contam com as duas nações como aliados cruciais e dependem de sua cooperação para contrapor as crescentes ambições militares da China e o programa de armas da Coreia do Norte.

Com as tensões aumentando, nesta quarta-feira o presidente sul-coreano Moon Jae-in alertou executivos de companhias como Samsung e Hyundai a se prepararem para uma longa batalha. Apelando para uma solução diplomática, ele disse que o boicote japonês às exportações tem “motivações políticas” e foi arquitetado para ferir a economia coreana.

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Moon pediu que Shinzo Abe suspenda as sanções econômicas imediatamente, classificando a situação como sem precedentes e alertando que o Japão está se enveredando por um “beco sem saída”.

“Como são medidas com impacto negativo na economia global, vamos buscar cooperação internacional nesta questão”, enfatizou.

O Departamento de Estado americano não respondeu a pedidos para comentar o assunto. Um porta-voz declarou à agência estatal sul-coreana Yonhap, no início da semana, que é “fundamental que Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul trabalhem juntos”.

Apesar de as restrições comerciais japonesas não chegarem ao ponto de um embargo total, elas exigem que os exportadores obtenham licenças específicas cada vez que tenham de exportar para a Coreia do Sul, gerando burocracia e longo tempo de espera.

Alerta para turbulências globais

“Se o suprimento de peças ou materiais japoneses for interrompido e afetar a produção de fabricantes de chips sul-coreanos, como a Samsung Electronics, as turbulências vão se espalhar por todo o mundo”, alertou um editorial da revista Nikkei Asian Review, referindo-se aos prováveis efeitos sobre empresas como a americana Apple e a chinesa Huawei.

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Antigo embaixador da Coreia do Sul no Japão, Shin Kak-soo disse que a disputa põe em perigo os esforços conjuntos na questão nuclear da Coreia do Norte, mas há espaço para os Estados Unidos atuarem como mediador entre os dois aliados.

“No entanto, as escaramuças entre Seul e Tóquio podem enfraquecer a coalizão, enquanto a Coreia do Norte se volta à China e à Rússia para uma cooperação trilateral”, aponta.

Muitos sul-coreanos comungam do sentimento de que o Japão não fez as devidas compensações pelos abusos cometidos durante a ocupação colonial da península. Tóquio, em contrapartida, entende que o tratado de 1965 traçou uma linha divisória sobre a questão e que os ressentimentos deveriam ser deixados para trás.