O Reino Unido (que não pertence à zona do euro) enfrentou ontem a maior greve em uma geração, com cerca de 2 milhões de professores, funcionários do controle da imigração e outros setores públicos cruzando os braços. Nos hospitais, foram canceladas ou adiadas 6 mil cirurgias e 62% das escolas públicas não abriram, segundo sindicatos ouvidos pelo jornal The Guardian. Os trabalhadores protestaram contra planos do governo para fazê-los se aposentarem mais tarde e pagarem mais por suas pensões.
As medidas de austeridade do primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador, têm como objetivo reduzir a dívida pública de 967 bilhões de libras (US$ 1,5 trilhão). O governo afirma que as reformas são necessárias para reduzir a conta anual de 32 bilhões de libras com pensões. Os sindicatos, porém, dizem que essas reformas são injustas e desnecessárias. Os dois lados não chegaram a um acordo, apesar de meses de conversas e de uma oferta melhor do governo feita este mês.
Adesão
Cerca de dois terços das 21,7 mil escolas públicas britânicas ficaram fechadas, com a adesão muito forte dos professores à greve, principalmente na Inglaterra e no País de Gales. Sindicatos dos trabalhadores disseram que 2 milhões de funcionários públicos aderiram à paralisação, a maior desde a infame disputa trabalhista de 1979, o "Inverno do Descontentamento", que precedeu na época a chegada da conservadora Margareth Thatcher ao poder como premiê.
Serviços de emergência, como ambulâncias e socorristas, só atenderam casos extremos, quando os pacientes corriam risco iminente de morrer. Embora o temor fosse de caos nos aeroportos, isso em grande parte foi evitado ou amenizado com medidas de contingência. No Aeroporto de Heathrow, as empresas aéreas alertaram os passageiros de que poderiam ocorrer atrasos de até 12 horas na passagem pela imigração por causa da greve, mas os voos que chegaram ontem dos Estados Unidos, dos países europeus e da Ásia não foram muito afetados.
A greve ocorreu um dia após o governo anunciar que os salários para o funcionalismo público subirão apenas 1% por ano até 2014, mesmo que a inflação na Grã-Bretanha esteja numa média anual de 5%. Maria Haverton, enfermeira de 36 anos, disse que aderir à greve foi sua última alternativa. "Nós percebemos que o governo está com problemas no orçamento, mas por que eles não lidaram com isso antes? Estou preocupada com minha aposentadoria. Estou preocupada com o futuro do meu filho", ela disse perto da estação ferroviária Kings Cross.
Reação
"Eu não quero ver greves, eu não quero ver escolas fechadas e eu não quero ver problemas nas nossas fronteiras, mas esse governo precisa tomar decisões responsáveis", disse Cameron, justificando as medidas. O ministro das Finanças, George Osborne, disse que o governo precisava levar o setor de pensões públicas para um patamar mais sustentável e reiterou a posição do governo de que a grande ação de protesto dos trabalhadores apenas enfraquecerá a economia e cortará empregos.
"Portanto, vamos voltar à mesa de negociações. Vamos chegar a um acordo sobre pensões que seja justo para o setor público, dê pensões decentes por muitas, muitas décadas, mas que esse país também possa bancar e que nossos contribuintes possam pagar", disse Osborne, em entrevista televisionada. O Tesouro britânico estimou que a greve possa custar 500 milhões de libras à economia.