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Financiamento

Burocracia aumenta distância para investir em inovação

Guilherme Bampi, da Madeplast: “a parte burocrática assusta” | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Guilherme Bampi, da Madeplast: “a parte burocrática assusta” (Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo)

Apesar do baixo valor de investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, estimado em 1,2% do PIB, sobra dinheiro nas linhas oficiais de crédito para inovação oferecidas no país. O programa Inovacred, por exemplo, lançado no fim de 2012 pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), tem R$ 840 milhões para serem liberados até 2016. Até agosto deste ano foram contratados R$ 81,9 milhões, menos de 10% do total. Burocracia, critérios de avaliação de projetos e exigências nas garantias para a liberação de crédito são as principais razões para aumentar o fosso entre o volume disponível e o realmente utilizado no desenvolvimento de novas tecnologias.

Os programas federais dependem de agentes financeiros parceiros para levar os programas disponíveis até as empresas que mantêm projetos de inovação. O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) atende a Região Sul e é responsável pela maior fatia do Inovacred liberado no país até agora: R$ 33,7 milhões, de acordo com dados de agosto de 2014, distribuídos em seis operações no Paraná (R$ 9 milhões), duas em Santa Catarina (R$ 2,5 milhões) e cinco no Rio Grande do Sul (R$ 22,1 milhões).

O bom desempenho do BRDE, porém, ainda está abaixo do esperado para o programa. A gerente de planejamento adjunta da agência de Curitiba, Tatiana Henn, lembra que a linha ainda é nova e foi trabalhada pela equipe do banco, que percorreu o estado para aproximação com empresários. O Paraná é o que tem o maior volume de recursos em análise. São R$ 30 milhões, mais do que a soma dos vizinhos.

Barreiras

A Madeplast, de Man­di­­ri­tuba, na Região Metro­politana de Curitiba, vai receber agora parte do financiamento que pleiteou em um projeto apresentado ao Inovacred em 2012. Durante oito meses, o empresário Guilherme Bampi negociou os termos do empréstimo para a instalação da planta fabril do processo de plastificação da madeira.

Com tecnologia desenvolvida durante quatro anos na incubadora da Universidade Positivo, Bampi chegou à fórmula que utiliza resíduos de madeira e plástico, na proporção de 70% e 30%, para a produção de tábuas e perfis usados como revestimento, decks externos e acabamento de decoração. "Precisava de dinheiro para fazer a produção em escala comercial e colocar o produto no mercado", diz.

Sem poder esperar pela liberação do financiamento para construir a fábrica, Bampi investiu capital próprio para buscar reembolso mais tarde. A maior dificuldade para assinar o contrato foi apresentar as garantias exigidas pelo sistema. Sem imóvel para oferecer, recorreu a uma carta de aval, fornecida pelo banco comercial onde era cliente.

"A parte burocrática também assusta. Contei cada uma das etapas que percorri para finalizar o processo: foram 32 movimentos diferentes", diz. Com o dinheiro liberado, Bampi quer ampliar a produção para 150 toneladas por mês. Hoje, 50 funcionários trabalham em três turnos para garantir 100 toneladas mensais.

Finep quer aumentar em 60% volume de recursos

Com previsão de liberar R$ 10 bilhões até o fim do ano para projetos de inovação, a Finep deve aumentar em 60% o volume de recursos para investir em pesquisa e desenvolvimento. Em 2013, a agência federal fechou o ano com R$ 6,2 bilhões. O montante maior é um dos principais efeitos do esforço de agilidade na avaliação das propostas.

Há um ano, a agência implantou o Finep 30 dias, em que se compromete a responder às empresas, com o valor e as condições do empréstimo, dentro de um mês. "Depois disso, o processo entra em fase de aprovação, análise jurídica e análise de garantia. Dependendo da complexidade do projeto, o prazo médio para liberação do dinheiro é de até 120 dias", explica o diretor de inovação da Finep, Fernando Ribeiro.

Em grande parte das vezes, é na análise de garantia que o processo emperra. Empresas iniciantes não têm máquinas, imóveis ou equipamentos para comprovar a capacidade de pagamento. "No caso das tecnológicas, o principal bem, muitas vezes, é a expertise dos empreendedores. Para esse perfil, já há avaliações alternativas, como a propriedade do código fonte ou a carteira de clientes", explica a advogada Cláudia Aparecida Batista da Rocha, analista de negócios do Senai-PR.

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