Uma história está prestes a se repetir. Há poucos anos, algumas startups nascidas já na era digital aproveitaram a morosidade dos bancos para oferecer soluções tecnológicas mais praticas e baratas: as fintechs (um exemplo: o Nubank e seu cartão de crédito digital com juros mais baixos). Agora, apontam analistas, uma nova revolução pode estar a caminho, desta vez no burocrático setor das normas e regulamentações, parte vital de qualquer economia. As regtechs (junção de “tecnologia regulatória”) são o próximo grande negócio.
Ainda incipiente no Brasil, esse novo mercado se aquece em países como Irlanda, Luxemburgo e Estados Unidos. A Deloitte, consultoria mundial no segmento financeiro, cravou: elas são as novas fintechs. “Enquanto o nome [regtech] é novo, o casamento da tecnologia e regulamentação tem existido há algum tempo com diferentes graus de sucesso. Aumento dos níveis de regulamentação e um maior enfoque nos dados e na elaboração de relatórios dão ênfase maior às regtechs e criam, assim, mais valor para as empresas que investem nessas soluções”, definiu a empresa em um documento extenso, publicado em 2016, que analisava estas startups e as empresas que as contratavam.
“Uma regtech oferece soluções tecnológicas para preencher o que pede a regulamentação e o compliance (normas internas e externas que as empresas seguem) que muitos setores de atuação exigem”, destaca o especialista em tecnologia financeira Paulo Loures, consultor em projetos de fintechs brasileiras. “Pense que você quer abrir um banco, mas há uma infinidade de regras do Branco Central, ou quer criar um planos de saúde, onde a ANS (Agência Nacional de Saúde) exige que você faça tal e tal coisa . É aí que estas startups atuam: facilitam a forma que a empresa lida com a burocracia, seja normas, tributos ou leis”, aponta.
A burocracia está longe de ser um problema brasileiro. De acordo com um relatório da Business Insider, desde a crise financeira de 2008 até 2016, o volume anual de publicações regulatórias, alterações ajustes subiu 492%.
Mas, se o papel de analisar as regulamentações sempre foi feito por profissionais específicos, assessorias jurídicas e pela própria tecnologia, em algum grau, agora isso se torna bem mais intuitivo e inteligente. É que, como destaca a Deloitte, as regtechs conseguem oferecer soluções são mais fragmentadas, atuando em problemas específicos. Muitas aplicam inteligência artificial capaz de aprender sobre o negócios de atuação e se tornar um experiente consultor ... só que em algumas horas. As soluções armazenadas em nuvem, por exemplo, dão flexibilidade às empresas que se utilizam destas soluções . Velocidade para responder às mudanças e análise mais inteligente de dados são os principais ganhos.
Expertise brasileira
Umas das mais proeminentes empresas brasileiras neste segmento é a LegalBot, uma startup que desenvolveu um sistema de inteligência artificial capaz de interpretar normas e regulamentos, o Monitor Regulatório, voltado sobretudo a instituições financeiras. Alexandre Bess, presidente da empresa, estima que a ferramenta aumente em espantosas 3 mil vezes a produtividade dos usuários – é que o algoritmo consegue analisar uma grande quantidade de dados de regulamentação, interpretá-lo, priorizar.
Como a ferramenta da LegalBot usa o modelo de machine learning, em que o software aprender por repetição de padrões, isso permite uma alta personalização da ferramenta. Bess indica que são 80 os clientes que já usam. A empresa, nesta semana, garantiu lugar na Global Open Innovation Business Contest 5.0, um concurso mundial de inovação.