Que tal comprar um terreno em um loteamento e poder visualizar a sua futura casa, até mesmo "entrar" nela, ainda antes de o imóvel começar a ser erguido? Essa é a proposta da InstaCasa, startup que aposta na tecnologia para mudar a experiência de quem opta por esse tipo de investimento. Um dos fundadores da construtech, Maurício Carrer conta que a ideia é entregar ao comprador uma experiência similar àquela que é oferecida pelos decorados na incorporação.
"A InstaCasa vem de uma percepção de que todo loteamento lançado é vendido pelo corretor como um meio para a realização de um sonho, mas não se mostra esse fim, que é justamente o que as pessoas querem ver: o que pode ser feito em determinado local", revela. "Com a figura do decorado, a pessoa que quer comprar vai ao stand de um apartamento e é o decorado que faz ela se encantar com o produto, [que faz] ela entender de fato o que está comprando, e no mundo do loteamento isso não existia. Por isso a gente criou uma plataforma que consiga mostrar para as pessoas no momento em que elas têm contato com o empreendimento o que ela consegue fazer com um determinado lote", completa o arquiteto - tudo antes de fechar o negócio.
Para ir além da simples imaginação do interessado, a InstaCasa se utiliza da realidade aumentada para que o usuário elabore projetos completamente personalizados para o lote em questão. Desde 2017, a startup atuou junto a 25 empreendimentos: "quem usa a plataforma é o corretor, que informa ao sistema qual lote está sendo negociado e então elabora 80, 100 diferentes projetos de casas que podem ser implantadas naquele lote - com base inclusive na legislação aplicável naquele município, aclives ou declives".
Ao final do processo, quando a pessoa compra o lote, ela recebe um cartão de acesso à plataforma (que é fechada) para que escolha o projeto que quiser dentre os elaborados, "então, ela de fato deixa de comprar um simples lote e passa a comprar o sonho dela", acredita Carrer. Em dois anos de atuação, cerca de 2.500 compradores utilizaram o InstaCasa, número que a companhia pretende dobrar até o final de 2020.
Os projetos são construídos na tela de um tablet ou computador, mas a tecnologia aumentada roda nos estandes de todos os parceiros para que os compradores consigam visualizar as propostas "como se estivesse construída em cima da mesa", explica o fundador, "especialmente em lotes que são aclives ou declives muito acentuados. Esses lotes, tradicionalmente, eram os últimos a serem vendidos, mas quando as pessoas conseguem entender - do ponto de vista arquitetônico - o que podem fazer com um lote desses, elas veem que pode ser que caiba construir um salão de jogos, uma churrasqueira, um salão de festas na parte de baixo e passam a ter outra visão desse tipo de lote. Elas deixam de comprar o lote para comprar a casa delas, é um movimento muito bacana que a gente consegue através da tecnologia", comemora.
Além das "maquetes virtuais", a companhia já utiliza a realidade aumentada em experiências maiores. Com o uso de óculos especiais e de um aplicativo desenvolvido pela startup, o comprador consegue parar diante de um lote (que é só terra), projetar a casa em tamanho real e depois andar por dentro dela como se estivesse construída. A iniciativa ainda é um piloto, aplicado em um lançamento na cidade de Taguaí, em SP, mas deve ganhar escala futuramente.
E como todo sonho precisa caber no bolso, a plataforma também permite calcular o valor estimado da obra. O número é definido a partir do Custo Unitário Básico de Construção (definido em cada estado pelo Sindicato da Construção Civil), mas a perspectiva, em médio prazo, é por evoluir até a possibilidade de traçar quantas são as telhas, tijolos, sacos de cimento necessários para erguer cada projeto.
Na avaliação do arquiteto, a aplicação de soluções inovadoras pode injetar mais valor nesse segmento do mercado imobiliário. "Quando se fala de loteamentos muita gente pontua como se estivesse falando de nicho, mas é um setor grande e tradicional que pode se beneficiar da inovação. Só no estado de São Paulo são licenciados 450 mil lotes por ano. Se a gente extrapolar esse número para o Brasil, dá para estimar que o número geral é pelo menos três vezes maior do que esse", dimensiona.
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