O aplicativo de carona paga Cabify vai investir US$ 200 milhões no Brasil a partir da metade deste ano. O valor, um dos maiores aplicados no país por uma empresa estrangeira nesse segmento, deve acelerar a expansão do serviço espanhol no Brasil e promete acirrar a disputa pelos passageiros de carona, mercado também explorado por empresas como a norte-americana Uber e a brasileira 99. O Cabify, que começou a operar em Curitiba em março, não revela ao longo de quanto tempo o capital será investido no país.
“Nós vemos mais oportunidades no Brasil e na América Latina do que na Europa”, diz o fundador e atual presidente executivo do Cabify, Juan de Antonio. “Aqui, existem graves problemas com transporte público e mobilidade. É um mercado natural para investirmos.”
O valor, segundo a empresa, virá de uma nova rodada de investimentos série D, que será anunciada em breve - a empresa não revela quem são os participantes, mas a gigante do e-commerce Rakuten está entre eles. O grupo japonês, que participou das últimas duas rodadas da Cabify, não confirmou a informação para a reportagem.
A rodada não será exclusiva para investimento no Brasil e, por isso, o valor total será superior ao revelado pelos executivos do Cabify. Outros países onde a empresa atua - México, Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Panamá, Equador, Portugal e Espanha - devem receber parcelas do aporte.
Com a nova rodada, o Cabify deve ganhar novo impulso contra as rivais. A empresa, que tem atraído brasileiros em busca de um serviço de carona alternativo ao Uber, só recebeu US$ 140 milhões em investimento até agora. Para efeito de comparação, o Uber já levantou mais de US$ 11,5 bilhões com investidores. A 99, outra empresa disputando o mercado, conseguiu, além de aportes anteriores não revelados, um investimento de US$ 100 milhões, liderado pela Didi, principal empresa de carona na China. Uber e 99 não revelam os investimentos já feitos ou planejados para o Brasil.
Surpresa
Investidores do ecossistema de startups se surpreendem com o valor de US$ 200 milhões, mas o consideram factível para o mercado. “É um valor muito elevado para uma empresa como o Cabify, mas faz sentido se eles querem abocanhar todo o mercado brasileiro”, diz o cofundador da aceleradora de startups Ace e investidor anjo, Mike Ajnsztajn. “É uma aposta arriscada.”
Segundo o diretor executivo da consultoria Accenture, Guilherme Horn, o valor deve corresponder a um investimento de longo prazo. “Se a empresa planeja investir esse montante ao longo dos próximos três anos, por exemplo, não é um número tão absurdo assim.”
O tamanho do mercado potencial de transporte por aplicativo justifica o investimento, na opinião do coordenador do centro de estudos em negócios do Insper, Paulo Furquim de Azevedo. “Se considerarmos que os aplicativos geram R$ 1,5 milhão por dia em São Paulo e o Cabify tem uma fatia de 40% do setor, sabemos que eles podem recuperar o valor investido em cinco ou seis anos”, diz.
De acordo com Daniel Bedoya, diretor-geral do Cabify no Brasil, o dinheiro será usado para expandir o serviço pelo Brasil - hoje, o Cabify só funciona em sete cidades, incluindo São Paulo e Curitiba. O plano é chegar, até o final de 2017, a todas as capitais do país. Para isso, a empresa terá de expandir o número de funcionários pelo Brasil, que hoje é de 150 pessoas.
O valor também deve ser usado para abrir escritórios nas novas cidades, o que é necessário para treinar os motoristas e entregar a eles as garrafas de água oferecidas como cortesia.
Os gastos da empresa também envolvem a estratégia para reter os motoristas. Para estimulá-los, a empresa paga R$ 600 em bônus para quem realizar 90 corridas em uma semana. “Quando expandirmos, queremos manter esse vínculo para não perdermos a qualidade”, diz Bedoya.
Do lado dos consumidores, a estratégia é dar descontos, que podem chegar a 70% nas corridas fora dos horários de pico. “É uma forma de investimento”, diz o cofundador do Cabify. “Daqui a um tempo, vamos ganhar dinheiro com as corridas que eles continuarem a fazer por meio da plataforma.”
Para o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Alberto Luiz Albertin, o alto investimento no Cabify vai beneficiar o mercado como um todo. “O segmento fica ainda mais competitivo globalmente e a empresa reafirma a sua posição no Brasil”, diz. “Até pouco tempo, as atenções estavam concentradas apenas no Uber.”
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