Cachaçaria Boa Brasil, dos irmãos André e Sérgio Pignanelli, pretende dobrar a produção em 2014| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

Setor aproveita pouco o "efeito Copa"

O elevado número de turistas que visitam o país devido aos jogos da Copa do Mundo é uma oportunidade de divulgação da cachaça, um produto genuinamente brasileiro, para públicos estrangeiros. Os produtores do estado, entretanto, não investiram em grandes estratégias para conquistar novos paladares. As ações foram mais pontuais, como a degustação de cachaças que está sendo realizada no Mercado Municipal de Curitiba, em parceria com a Casa Poletto, até 13 de julho, sempre às sextas, sábados e domingos.

A Cachaçaria Boa Brasil, por sua vez, optou por realizar uma ação conjunta com um bar da cidade. Foram feitas camisetas do Brasil para serem distribuídas aos clientes e desenvolvidos drinks que têm a cachaça produzida pela empresa como ingrediente principal.

Já a Agroecológica Marumbi recebeu 13 bartenders dos Estados Unidos, que passarão dez dias na empresa para conhecer o processo de produção da cachaça em profundidade. "Para nós, isso dá mais resultado, pois é uma ação que vai perdurar no tempo", diz Fulgêncio Torres Viruel, fundador e presidente da Marumbi, que produz a cachaça Porto Morretes.

CARREGANDO :)

A cachaça paranaense está crescendo em qualidade e já começa a concorrer com outras regiões consagradas na produção do destilado, como Minas Gerais. O fato é comprovado pela coleção de medalhas que alambiques do estado acumulam em premiações nacionais e internacionais, como o Concours Mondial Spirits Selection 2014, realizado em Florianópolis. Cinco produtores do estado – Cachaçaria Boa Brasil, Cachaça Companheira, Alambique Canópolis, Casa Poletto e Porto Morretes – ganharam oito medalhas de ouro e prata. A Porto Morretes recebeu ainda a grande medalha de ouro do concurso.

INFOGRÁFICO: Veja como é feita a cachaça

Publicidade

Segundo os produtores, o resultado é fruto do investimento contínuo em processos de melhoria na produção que, além de gerar uma cachaça de boa qualidade, têm reflexos também na quantidade do destilado produzida e comercializada no estado.

Crescimento

Em 2013, o faturamento dos produtores paranaenses de cachaça cresceu entre 10% e 30%, em média, nas empresas ouvidas pela reportagem. O número pode ser considerado significativo, uma vez que grande parte da produção ainda é destinada ao mercado estadual. "Hoje, 85% da nossa produção é comercializada em Curitiba e região metropolitana. A outra parte é direcionada para o interior do estado, para cidades como Londrina", conta Sérgio Pignanelli, sócio-gerente da Cachaçaria Boa Brasil.

Para 2014, a expectativa é de que o crescimento mantenha-se entre 15% e 30%. "O mercado mundial está tomando cachaça e, assim como ocorre com outros setores, tudo o que acontece lá fora acaba refletindo aqui. Assim, as classes A e B estão começando a consumir, a buscar o bom produto, e isto está aumentando as vendas", diz Sadi Poletto, diretor-proprietário da Casa Poletto.

O reconhecimento da qualidade da cachaça paranaense ocorre após muitos investimentos em pesquisas e parcerias para a melhoria do processo produtivo. A Porto Morretes, por exemplo, aposta na qualificação dos funcionários por meio de treinamentos internos e de cursos externos custeados pela empresa.

Publicidade

A parceria com entidades que apoiam pequenas empresas, como o Sebrae, também oferece suporte para o desenvolvimento dos negócios. A Casa Poletto, a Cachaçaria Boa Brasil e a Porto Morretes, por exemplo, participam de um projeto da entidade com foco em boas práticas de produção, fabricação e distribuição, que tem reflexos nos negócios.

"Além da consultoria, buscamos junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial o selo de identificação geográfica de procedência, que agregará ainda mais valor às cachaças da região de Morretes", explica Maria Isabel Guimarães, consultora do Sebrae Paraná.

Produtores miram mercado externo

O Paraná ainda é o principal destino da produção de cachaça do estado, mas algumas empresas se destacam na exportação do produto e fazem do mercado externo uma alternativa para a expansão dos negócios.

Na Agroecológica Marumbi, que produz a cachaça Porto Morretes, 60% das vendas realizadas são destinadas para os Estados Unidos e o Canadá. "Estamos crescendo 30% ao ano em exportações nos últimos cinco anos. O que não comercializamos no mercado doméstico deslocamos para o externo que, para nós, é mais atrativo", conta Fulgêncio Torres Viruel, fundador e presidente da empresa.

Publicidade

Já os produtores que ainda não exportam começam a buscar informações e organizar seus processos tendo o mercado exterior como alvo. Juan Artigas Souza Luz, diretor do Alambique Canópolis, afirma que a empresa está se preparando e estudando mercados para iniciar as exportações, planejadas para 2016.

A Cachaçaria Boa Brasil, por sua vez, pretende entrar no mercado externo com o lote da cachaça premiada no concurso – a Boa Brasil Patriarca –, que foi preparado especialmente para a premiação. "Investimos no concurso exatamente para direcionar a produção deste lote para exportação, que exige mais qualidade e tem um valor agregado maior", explica Sérgio Pignanelli, sócio-gerente da empresa.