Em 2003 o engenheiro químico Fulgêncio Torres e o engenheiro mecânico Luiz Ricardo Guareschi decidiram deixar para trás carreiras estáveis e ativas como executivos da Volvo do Brasil para tentar ganhar dinheiro com um negócio próprio. "Largamos os carros, caminhões e motores para ficar com a cachaça", brinca Guareschi.
Em setembro de 2004, depois de investir cerca de US$ 1 milhão em equipamentos, eles iniciavam a primeira produção da cachaça Porto Morretes. O projeto era ambicioso: produzir uma cachaça de alto padrão, seguindo o processo tradicional, mas utilizando-se de alta tecnologia. "Tínhamos afinal experiência de alta gestão na Volvo", explica Torres.
A escolha de Morretes como sede e como nome também não foi por acaso. Documentos históricos dão conta que a produção de cachaça na cidade se iniciou por volta de 1700. O município se tornou referência na produção da bebida no Paraná e no Brasil e tomar uma "morreteana" virou sinônimo de tomar cachaça, de acordo com o dicionário Aurélio.
Morretes, porém, seguiu o mesmo caminho das cidades que outrora viveram da cachaça no Brasil. "No século 20, viveu-se um círculo vicioso. Quem tinha dinheiro não queria pagar um pouco mais. Os produtores por sua vez não se empenhavam em fazer um bom produto, já que não havia quem pagasse", explica Wolfgang Schrader, especialista e um dos principais produtores de Santa Catarina.
"Nossa idéia é exatamente essa", explica Guareschi. "Resgatar Morretes como expoente na produção de cachaça." Para tanto, os empresários contam com apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Sebrae. Orientada pelo doutorando em pós-colheita da Unicamp e professor de Produtos Agrícolas da UFPR, Agenor Maccari Júnior, a produção da Porto Morretes aposta em outro diferencial. A certificação como produto 100% orgânico. "Não utilizamos produto químico em todo processo. Seja na plantação da cana, seja no fermento. Nada", ressalta Torres.
A opção não é por acaso. A produção orgânica é valorizada no mercado europeu e já há negociação para venda da Porto Morretes na França. "Também temos amostras da bebida chegando nos Estados Unidos, Chile e Japão", diz Guareschi. O alambique da Porto Morretes tem capacidade para produzir 100 mil litros por ano. Segundo cálculos dos proprietários, pelo menos 25 mil litros devem ser comercializados até o fim desse ano. "Já vendemos em Campos do Jordão, Santa Catarina e São Paulo.""Quando comecei na loja, há 2 anos, tirei todas as cachaças de Morretes. Não vendia. Agora, aos poucos a Porto Morretes está fazendo os clientes voltarem a procurar a cachaça de nosso litoral", atesta Cy Barreto, proprietário da Lá de Minas, uma das principais lojas do ramo em Curitiba.ß Guilherme Voitch