Virou rotina em cada lançamento da Apple. Na quinta-feira passada, filas e mais filas se formaram em lugares como Tóquio, Paris, Londres e Nova York, à espera do iPhone 4. A empresa está em um grande momento, e não é só graças ao iPhone. As vendas do tablet iPad também são robustas e a empresa conseguiu ultrapassar a Microsoft, tornando-se a companhia de maior valor de mercado no setor de tecnologia. À medida em que o sucesso cresce, entretanto, ela passa a se colocar em uma posição que lhe é estranha a de vilão da indústria.
As queixas vêm de concorrentes e do governo, e chegam a ser surpreendentes. A Apple, até o momento, está longe de alcançar uma posição dominante como a que a Microsoft ocupou entre os PCs ou o Google obteve nas buscas e na publicidade on-line. É verdade que iPod e iTunes comandam o mercado de players musicais e de distribuição de música via internet, mas a empresa continua sendo um player menor no segmento de computadores pessoais. Só agora ela está entrando no negócio de publicidade digital e nas vendas de livros eletrônicos. Mesmo em smartphones, ela está bem atrás da Research in Motion, fabricante da marca BlackBerry, embora os seus dispositivos dominem o mercado de aplicativos para celular.
Talvez a mais rápida transformação da Apple de azarão em monopolista tenha ocorrido no campo da publicidade em dispositivos móveis, um mercado em que a empresa acaba de entrar. Novas políticas de publicidade para o iPhone 4 impedem Google e sua controlada AdMob de vender anúncios para o dispositivo. "Barreiras artificiais contra a competição prejudicam usuários e desenvolvedores e, a longo prazo, atrasam o progresso tecnológico", escreveu Omar Hamoui, presidente da AdMob. Com isso, a FTC ampliou sua investigação das práticas da Apple para incluir o iAds, de acordo com fontes que acompanham o caso.
As investigações chamaram a atenção de alguns experts em ações antitruste, em parte porque a Apple atualmente controla menos de um terço do mercado de smartphones nos Estados Unidos. A RIM, com seus BlackBerrys, continua sendo o número 1, e aparelhos baseados no software Android, do Google, estão ganhando rapidamente aceitação entre consumidores e desenvolvedores de aplicativos.
Mas há quem diga que o governo está certo em preocupar-se. "A Apple tornou-se muito agressiva em usar de força e tirar vantagem de sua posição no mercado", diz Andrew Gavil, professor de Direito na universidade Howard. "A questão é se essa influência é significativa o bastante em qualquer desses mercados, a ponto de afetar a competição. A resposta parece ser sim."