No ano passado, as vendas de cobre pareciam uma gangorra, ora subindo, ora descendo, na esperança de um acordo comercial entre EUA e China. Agora o cenário está mais para a descida de uma montanha-russa.
O foco, cada vez mais, volta-se para os danos causados pelo caos da disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo. Com vasta aplicação na indústria, o cobre é particularmente vulnerável à espiral descendente que se vê em tudo, da fabricação de carros e grandes maquinários agrícolas, até a construção civil e os componentes eletrônicos avançados.
"O que as estatísticas nos dizem é que a que a demanda pelo cobre está fraca e, em alguns casos, caiu drasticamente ", diz Oliver Nugent, estrategista de metais do Citigroup, em Londres. "A economia chinesa, que é muito atrelada às commodities, está num dos momentos mais ruins de sua história recente".
Na última sexta-feira, o cobre rompeu uma faixa de preço que já vinha desde julho de 2018 e atingiu o valor mais baixo em dois dois anos. As perdas continuaram nesta segunda-feira, com o metal caindo para US $ 5.640 a tonelada na London Metal Exchange. As cotações de zinco e o alumínio também despencaram.
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A cotação do cobre, no entanto, pode cair ainda mais, segundo análise do banco de investimentos Macquaire, que entende que o mercado ainda não teria se ajustado completamente ao cenário desfavorável para o metal. A desaceleração da indústria chinesa, que reduziu a demanda por cobre pela primeira vez desde 2015, tem forte efeito no mercado do metal, segundo uma análise do Citigroup. O banco prevê que o crescimento da demanda chinesa por cobre será o mais fraco desde 2000.
As preocupações também aumentam quanto ao crescimento econômico dos EUA. O Federal Reserve Bank em Nova York projeta que o risco de uma recessão nos próximos 12 meses está no maior nível desde 2008. O acirramento da disputa entre os EUA e a China pode custar à economia mundial cerca de US $ 1,2 trilhão, segundo a Bloomberg Economics.
Economistas do Morgan Stanley alertaram em nota, nesta segunda-feira, que a economia global provavelmente entrará em recessão dentro de nove meses, caso as tarifas dos EUA e a retaliação da China se prolonguem por mais um semestre.
Não é apenas a demanda de cobre que está caindo: encomendas de zinco na China apontam para o pior desempenho desde 2012.
A tendência de queda também é forte no setor de alumínio, onde os principais produtores, incluindo a Alcoa Inc. e a Norsk Hydro ASA, preveem um crescimento em ritmo mais lento. A demanda anual cresceu de 5% a 10% na maior parte da década passada, mas a Norsk Hydro diz que pode chegar a 1% neste ano.
Outro metal que não escapou ileso foi o níquel, que tinha se valorizado quase 40% neste ano com o aumento da oferta e um boom no uso de baterias para veículos elétricos. O principal produtor, MMC Norilsk Nickel PJSC, projeta que o crescimento do consumo acabará sendo o mais fraco desde 2015, uma vez que a forte demanda chinesa no setor de aço inoxidável vem perdendo fôlego.
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