A Caixa Econômica Federal (CEF) anunciou que planeja lançar uma nova linha de crédito imobiliário tendo como base de correção o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou seja, a inflação. Tradicionalmente, o índice adotado pelo mercado é a Taxa Referencial (TR, que remunera a caderneta de poupança). A novidade, ainda em estudo no banco, criou expectativas relacionadas à geração de novos recursos para o mercado imobiliário e também ao impacto que poderia ter no bolso do consumidor.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, não adiantou detalhes sobre a nova linha, que deve ser anunciada nos próximos dias, mas garantiu em diferentes oportunidades que ela poderá dobrar a capacidade de oferta de crédito do banco, atingindo a casa dos R$ 100 bilhões por ano. Isto ocorre porque a correção pelo IPCA permite ao banco securitizar sua carteira com emissão de títulos mais atrativos aos investidores, que por sua vez engordam o montante disponibilizado para quem deseja contratar o financiamento imobiliário.
“O financiamento médio de mercado vem da caderneta de poupança, que tem volume limitado. Não podemos deixar que o mercado imobiliário dependa do dinheiro da poupança ou ele nunca vai crescer como pode. O futuro do mercado é, sem dúvida, de taxas indexadas ao IPCA”, avalia Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Além da poupança, recursos do FGTS também são utilizados no financiamento de imóveis, neste caso os vinculados ao programa Minha Casa Minha Vida.
Mercado aguarda detalhes para avaliar benefícios da proposta
A nova fonte de captação de recursos e uma possível redução da renda necessária para a contratação do financiamento, ventilada entre representantes do setor, tem feito com que agentes imobiliários recebam de forma positiva a movimentação da Caixa. Para outros especialistas, no entanto, o momento é de cautela.
“É importante saber como essa [nova linha] vai funcionar na prática. Não está muito claro se a correção será mensal ou anual, que é o normal, por exemplo. Preocupa-me [o fato de ela estar atrelada ao IPCA] porque o financiamento imobiliário é muito longo, e o Brasil não é um país realmente estável. Não se pode dizer que nada irá acontecer em 30 anos”, alerta Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain Bureau de Inteligência Corporativa.
Outro ponto levantado por Vinícius Costa, diretor-presidente da Associação Nacional dos Mutuários da Habitação (ABMH) é a tendência de que a medida não venha, necessariamente, a beneficiar o mutuário, uma vez que a correção da TR, atualmente nula, será substituída pela correção positiva do IPCA -- prevista em 3,84% para 2019, segundo relatório do Banco Central divulgado nesta segunda-feira (17) -- na nova linha de crédito imobiliário.
Assim como ocorre no modelo que tem a TR como base de indexação, a ela será somada taxa de juros, que ainda não foi divulgada pelo banco. “Segundo informações que ouvimos em conversas de bastidores, ela deverá girar entre 4% e 6%. Então, se o IPCA estiver baixo, o custo do financiamento será menor. A questão será se o IPCA aumentar”, aponta Araújo. No modelo tradicional, indexado pela TR, as taxas da Caixa variam entre 8,5% e 9,75% ao ano. “A possibilidade de o mutuário escolher a linha mais adequada ao risco que pode assumir é outro ponto positivo desta nova linha de financiamento”, conclui o sócio da Brain.