A desaceleração do crédito na Caixa deve ser ainda maior neste ano, como consequência da provável retração na economia. O Estado apurou que a área técnica do banco trabalha na revisão da projeção de crescimento dos empréstimos e financiamentos em 2015 para menos do que o intervalo de 14% a 18% previstos até agora.
Apesar de ainda ter o maior ritmo de crescimento do setor, o crédito na Caixa passa por brusca desaceleração: em 2014, a expansão foi de 22,4%, ritmo bem menor do que os 36,8% em 2013. Nos dois anos anteriores, o crescimento chegou a 42%.
Neste ano, a expectativa é de retração da economia de 0,66%, de acordo com previsões de analistas consultados pelo Banco Central. O crédito também sofre os impactos da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás.
A crise paralisa os negócios em toda a cadeia do setor e emperra investimentos até em outras áreas. No banco estatal, já é certo que a retração será maior do que a prevista atualmente pelos analistas, com grande impacto nos desembolsos.
Sem novos aportes do Tesouro para 2015 e 2016, a Caixa não deve repetir a estratégia de 2008, quando aproveitou o vácuo deixado pelos bancos privados - que restringiram a oferta de empréstimos após a quebra do americano Lehman Brothers - para ampliar participação no mercado. A ideia do governo foi irrigar a economia usando o papel “estratégico” dos bancos oficiais em fomentar o desenvolvimento do País.
Alívio
Internamente, a retração da atividade econômica está sendo encarada até como “alívio” por favorecer a necessária desaceleração no ritmo de empréstimos e financiamentos enquanto não há sinal de novas capitalizações.
O freio na locomotiva do crédito da Caixa pode trazer como consequência perda de espaço em algumas linhas, como o consignado e o crédito imobiliário, este último carro-chefe da instituição. O ex-presidente Jorge Hereda disse na apresentação do resultado de 2014 que para alcançar 22% da fatia de mercado até 2022, objetivo do banco, é preciso manter um crescimento da carteira em torno de 17%.
Sem novos aportes do Tesouro, a direção da Caixa também espera que o governo cumpra a lei que libera a instituição de entregar todo o lucro ao Tesouro. O banco estatal repassou R$ 3,9 bilhões de dividendos ao governo em 2014, pouco mais da metade do lucro líquido do ano passado (R$ 7,1 bilhões).
O banco conseguiu vencer a queda de braço com o Tesouro para ficar com parte dos dividendos por ter bancado o programa Minha Casa Melhor, que financia móveis e eletrodomésticos para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida. A retenção de até 75% do lucro pela Caixa foi a forma como o Tesouro cobriu o risco de crédito e operacional do programa, que tem inadimplência de 30%, bastante elevada. O Minha Casa Melhor foi suspenso não só por causa do alto número de calotes mas porque os recursos ao programa acabaram.
A decisão sobre quanto em dividendos a Caixa pode reter, no entanto, cabe ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Como a União é dona da Caixa, os lucros do banco são devolvidos ao Tesouro na forma de dividendos ou juros sobre capital próprio. Essas receitas ajudam o governo a compor o superávit primário - economia para pagar os juros da dívida. Na gestão do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, os dividendos das estatais foram muito importantes para aumentar o esforço fiscal do governo. Apesar disso, o governo está há três anos seguidos sem cumprir a meta.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast