A recessão levou a um aumento dos calotes e do risco de crédito. Era natural que os juros subissem. Mas o que ocorreu desde o ano passado sugere que há algo de muito estranho no mercado de crédito.
Entre novembro de 2015 e novembro de 2016, o custo de captação dos bancos – ou seja, o juro que pagam a quem lhes empresta dinheiro – baixou 18%, para 12,1% ao ano. Por outro lado, a taxa média de juros para pessoas e empresas, nas operações com recursos livres, aumentou 12%, chegando a 53,9% ao ano.
O resultado dessa combinação foi que o chamado spread, montante que “sobra” para o banco, deu um salto de 25%, chegando a 41,8% ao ano. O aumento da inadimplência foi bem mais discreto: na média de pessoas físicas e jurídicas, ela subiu 10% em um ano, chegando a 5,8% da carteira no mês passado.
O último Relatório de Economia Bancária e Crédito do BC, relativo a 2014, mostra que a inadimplência respondia por 25% do spread bancário. Custos administrativos, impostos e outros itens representavam 37%. O maior componente era justamente a margem líquida do banco, com 38% do spread. Entre os grandes bancos, a porção correspondente ao lucro era ainda maior, de 42%.
Estudos realizados no início da década passada, antes da onda de aquisições ocorrida durante a crise financeira de 2008/2009, concluíram que não havia evidências de que a concentração bancária ajuda a elevar o “spread” – diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e o juro que cobram dos clientes.
Mas ex-diretores de banco avaliam que o ambiente de baixa concorrência facilita a vida dos gigantes. “O custo bancário é alto, a inadimplência também. Mas o fato de o mercado ser tão concentrado leva a essa ineficiência na competição. As taxas são muito parecidas, e todas altas”, diz o consultor Fernando Meibak, da Moneyplan, que foi executivo do ABN Amro Real e do HSBC.