A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou nesta quinta-feira um projeto para cancelar o pagamento anual de 147 milhões de dólares para o setor de algodão do Brasil.
A aprovação acontece mesmo diante de alertas de que isso poderia gerar uma guerra comercial, uma vez que os pagamentos integram um acordo feito entre o Brasil e os EUA, após os norte-americanos terem perdido uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) relacionada aos subsídios ao algodão.
O deputado Ron Kind ridicularizou o pagamento ao setor de algodão do Brasil. Os deputados aprovaram a medida por 223-197.
Mas a expectativa do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), criado para administrar e investir os recursos recebidos dos EUA, é de que a situação possa ser revertida no Senado, que ainda não propôs a sua versão do projeto.
"É onde acreditamos que há chance de barrar a medida. No Senado há um maior compromisso em relação ao acordo dos governos dos Estados Unidos e Brasil", disse o presidente do Iba, Haroldo Cunha.
Segundo Cunha, o instituto vem recebendo os recursos em dia, mensalmente. Caso os EUA suspendam o pagamento, disse ele, o Brasil poderá exercer o seu direito de retaliar, de acordo com o que foi concedido pela OMC.
A medida da Câmara dos EUA está relacionada com o projeto de lei que dá fundos de 125 bilhões de dólares para o Departamento de Agricultura dos EUA e agências relacionadas para o ano fiscal que começa no dia 1o de setembro.
Um ano atrás, os Estados Unidos concordaram em pagar 147 milhões de dólares anualmente para um fundo de assistência para produtores de algodão no Brasil, como parte da resolução da disputa comercial.
O Brasil, uma potência em agricultura, venceu na OMC a disputa em que afirmava que os subsídios ao algodão nos EUA distorciam a produção global e conseguiu o direito de impor tarifas compensatórias em produtos dos EUA."A guerra comercial que está sendo evitada, mais de 800 milhões de dólares em produtos exportados para o Brasil, protege uma grande gama de indústrias que não tem relação com a agricultura", disse o republicano Michael Conaway do Texas, o maior produtor de algodão do país.
Os legisladores rejeitaram a proposta do republicano Jeff Flake, do Arizona, para remover quase todos os subsídios ao algodão. Flake disse que os seus colegas ruralistas não estão dispostos a cortar os subsídios e atender os compromissos assumidos com a OMC.
"Esta mudança vai deixar a indústria de cabeça para baixo", disse o presidente do comitê de agricultura Frank Lucas.
O líder democrata do comitê, Collin Peterson, disse que o Brasil "não vai sair com o que quer" nas reformas nos EUA.