Agências de classificação seguem céticas
Se o Congresso finalmente aprovar o plano para elevar o teto da dívida americana, as atenções se voltarão às três principais agências de classificação de risco do mundo. Mesmo se evitar um default, os EUA ainda podem perder o rating AAA se as agências Standard & Poors, Moodys and Fitch considerarem que o plano não vai suficientemente longe para aliviar os desafios fiscais de longo prazo que o governo enfrenta.
Dados os processos políticos envolvidos, as agências podem adiar a avaliação sobre os ratings dos EUA até depois do Dia de Ação de Graças, em novembro, para verificar as recomendações do comitê bipartidário especial que será criado de acordo com o plano aprovado ontem.
Até agora, todas as três agências têm sido bastante sinceras sobre o processo e não se recusaram a expressar publicamente suas opiniões sobre a forma como o governo está lidando com a questão da dívida. "O acordo provisório nos EUA sobre um pacote fiscal fechado ontem [domingo] à noite é um ganho de tempo sobre a questão do teto da dívida, mas não resolve confiavelmente o déficit fiscal e os riscos relacionados a um rebaixamento", disseram ontem analistas do Barclays.
"Nós acreditamos que um plano de redução do déficit confiável de US$ 5 trilhões é necessário para estabilizar a relação entre dívida e PIB durante a próxima década. Consequentemente, o risco de um rebaixamento dos EUA permanece alto, na nossa opinião", afirmaram.
Bolsa
Mesmo na expectativa de uma aprovação do acordo, os investidores se deram conta de que a economia dos Estados Unidos continua fraca, situação que tende a agravar-se com os cortes de despesas definidos na negociação entre democratas e republicanos. Como resultado, as bolsas de valores abriram a semana com baixas em todo o Ocidente.
O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) perdeu 0,49%; o Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, se desvalorizou 0,09%; e a Nasdaq caiu 0,43%. O principal índice da Bolsa de Frankfurt (DAX) recuou 2,86% e o da Bolsa de Londres (FTSE), 0,70%.
O raciocínio dos investidores é o mesmo que tantas críticas suscitou na história do Fundo Monetário Internacional (FMI). Quando um país recorria ao Fundo, o receituário para ser socorrido incluía pesados cortes orçamentários. Em economias já debilitadas, as medidas se mostravam mortais. Ao cortar despesas, o governo tirava dinheiro e fôlego da economia. Muitas vezes, a receita provocava recessão.
O outro temor que tomou conta do mercado está relacionado justamente à possibilidade de os EUA terem a nota de crédito (rating) rebaixada pelas agências de classificação de risco a despeito do acordo sobre o aumento da dívida.
Agência Estado
Na noite de ontem, líderes democratas e republicanos conseguiram controlar as alas mais extremistas de ambos os partidos e aprovar, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o pacote bipartidário que eleva o teto da dívida norte-americana em até US$ 2,4 trilhões. O plano foi aprovado por 269 votos contra 161 e, agora, vai para o Senado, onde começa a ser discutido às 11 horas de hoje (horário de Brasília). Não serão permitidas emendas, e será necessária uma supermaioria de 60 senadores, dos 100 que compõem a casa.
Com motivos diferentes para atacar o plano, os deputados descontentes dos dois partidos, juntos, poderiam ter derrubado o que os congressistas mais moderados haviam construído com o presidente Barack Obama. Antes de ingressar em uma reunião a portas fechadas com outros democratas, no começo da tarde de ontem, a líder da minoria na Câmara dos Representantes, deputada Nancy Pelosi, disse que o acordo trazia pontos positivos, como um aumento no teto da dívida suficiente para as necessidades de financiamento dos próximos 18 meses, mas alertou que seus companheiros de partido estavam "muito preocupados com um projeto de lei que faz grandes cortes nos gastos e não envolve sequer um centavo das pessoas mais ricas do nosso país nenhuma receita. É desconcertante", avaliou. No começo da noite de ontem, Nancy Pelosi acabou declarando apoio à proposta.
À tarde, a maior parte dos democratas dizia ainda estar indecisa ou ser contrária ao novo acordo. "Estou pendendo mais para o não", disse o deputado Steve Cohen, ao sair de uma reunião com outros membros do seu partido. Um funcionário da administração Obama reconheceu que "há alguns democratas que simplesmente não acreditam na necessidade de reduzir o déficit", mas ressaltou que a maioria apoiava o plano. "Eu acho que é importante como partido mostrar aos americanos que somos sérios sobre a redução de déficit", disse. No fim, os deputados democratas se dividiram igualmente: 95 votaram contra o pacote e 95 o aprovaram entre os favoráveis estava Gabrielle Giffords, em seu primeiro voto desde que foi baleada na cabeça em um atentado em janeiro.
Republicanos
Os democratas são minoria na Câmara dos Representantes, mas a oposição dos deputados do partido em relação ao acordo da dívida era relevante porque havia deputados republicanos, principalmente da ala mais conservadora, que também eram contrários ao plano. Membros do Tea Party, a ultradireita republicana, sugeriram que seria possível derrubar a estratégia democrata de impedir debate no Senado (partindo logo para a votação) e pedir ao menos 30 horas de discussão sobre o plano o que já impediria sua aprovação hoje e levaria os Estados Unidos ao calote.
Outro grupo "de risco" na Câmara dos Representantes tinha mais de 60 deputados republicanos veteranos do Comitê de Serviços Armados, que não pareciam dispostos a aceitar o corte de US$ 350 bilhões no orçamento base de Defesa. O corte, parte do plano, representa o primeiro golpe aos cofres do Pentágono desde os anos 90 e será implementado de acordo com uma revisão das missões dos EUA. A proposta inclui ainda um mecanismo de segurança segundo o qual, se não houver acordo para novos meios para reduzir a despesa e atualizar o plano até o fim do ano, uma outra fatia de no máximo US$ 500 bilhões seja cortada do orçamento da Defesa. Ontem à noite, 66 republicanos se opuseram ao pacote e 174 votaram a favor.
A Casa Branca e os líderes dos dois partidos nas Casas passaram o fim de semana investigando seus correligionários para determinar quantos votos seriam perdidos a partir do momento em que os detalhes do plano fossem divulgados, o que aconteceu na noite de domingo.
Boehner
O presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, falou ontem em uma conferência de deputados republicanos e defendeu seu plano para aumentar o teto da dívida. "Este é o melhor número que temos para a Defesa", argumentou. Boehner afirmou que não haverá aumento de impostos e que, em 20 anos de vida pública, ele nunca viu situação como essa. "Nós nunca estivemos nessa confusão", disse.
Mesmo quando o projeto foi levado a voto, detalhes se perdiam na retórica de republicanos e democratas, que tentavam explicar a suas bases que não abdicaram de seus princípios nem optaram por uma solução incompleta. "O acordo pode ser o melhor possível, politicamente, mas mal vale ser chamado de acordo", escreveu Sebastian Mallaby, diretor do Centro de Geoeconomia do Council on Foreign Affairs.
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