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Câmara vota desoneração da folha em novo desafio do governo para fechar contas

Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante evento em Brasília: deputados devem votar regime de urgência para projeto de desoneração da folha que ainda não foi discutido com o governo. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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A Câmara dos Deputados deve votar nesta terça-feira (29) o projeto de lei (PL) que prorroga até o final de 2027 a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia. A análise do texto, já aprovado no Senado, é mais uma a preocupar o governo pelo impacto que pode causar na arrecadação para os próximos anos.

Proposto pelo senador Efraim Filho (União-PB), o PL 334/2023 altera a Lei 12.546/2011 para estender por mais quatro anos a permissão para que empresas paguem alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta em vez de 20% sobre a folha salarial como contribuição previdenciária patronal. A medida beneficia setores que estão entre os que mais empregam no país:

  • confecção e vestuário;
  • calçados;
  • construção civil;
  • call center;
  • comunicação;
  • empresas de construção e obras de infraestrutura;
  • couro;
  • fabricação de veículos e carroçarias;
  • máquinas e equipamentos;
  • proteína animal;
  • têxtil;
  • tecnologia da informação (TI);
  • tecnologia de comunicação (TIC);
  • projeto de circuitos integrados;
  • transporte metroferroviário de passageiros;
  • transporte rodoviário coletivo; e
  • transporte rodoviário de cargas.

Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o relator da proposta, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), acrescentou um artigo que reduz de 20% para 8% a contribuição previdenciária da folha de pagamentos de municípios com população inferior a 142,6 mil habitantes.

A medida, de caráter permanente, beneficiaria cerca de 3 mil prefeituras, responsáveis por aproximadamente 40% da população brasileira, de acordo com Coronel.

Segundo ele, o benefício se justificaria porque a legislação equipara os municípios a empresas para fins de recolhimento da contribuição, mas, embora fixe alíquotas de acordo com o porte de companhias privadas, não faz o mesmo em relação às prefeituras.

O impacto da medida será de aproximadamente R$ 9 bilhões anuais para os cofres da União, em um momento em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre atrás de novas fontes de arrecadação para dar conta das metas de resultado primário que estabeleceu para os próximos anos.

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Na CAE, onde a votação teve caráter terminativo – sem necessidade de confirmação pelo plenário da Casa –, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), chegou a pedir que a matéria não fosse apreciada, uma vez que o Executivo trabalha em uma proposta alternativa, ainda a ser apresentada, mas foi voto vencido.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, após a aprovação, não entender o motivo da “pressa” do Senado em votar a prorrogação, já que o prazo vence apenas no fim do ano e haverá uma discussão específica sobre o assunto durante a segunda fase da reforma tributária, prevista para ser debatida neste segundo semestre.

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Na Câmara, o líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), pretende apresentar uma emenda para substituir a proposta de Coronel, estabelecendo uma redução da alíquota dos municípios de forma progressiva, com base no Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

A mudança elevaria ainda mais a renúncia da União, que poderia chegar a R$ 19 bilhões em 2024, segundo estimativa do economista Gabriel Leal de Barros a pedido do portal “Poder360”.

Curiosamente, a ideia de Nascimento é inspirada no projeto de lei complementar (PLP) 51/2021, proposta por Jaques Wagner quando o atual líder do governo no Senado fazia oposição à gestão de Jair Bolsonaro (PL).

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Lira diz que não há acordo na Câmara sobre redução de alíquota para municípios

Na última quinta-feira (24), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), confirmou que devem ser votadas a urgência e o mérito do PL nesta terça, mas disse que não há acordo quanto à desoneração para municípios, que ainda será discutida na Casa.

“Sou municipalista e todos os deputados aqui estão muito preocupados com as finanças municipais, que vêm sofrendo com a baixa da arrecadação, vêm sofrendo com a desoneração da tabela do Imposto de Renda, com o que foi feito para a indústria automobilística, e com a ausência [de recursos] em um comparativo que a CNM [Confederação Nacional de Municípios] trouxe de emendas parlamentares entre o ano passado e este ano”, disse Lira.

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“Os prefeitos estão apavorados, e essa emenda do Senado, a que veio no projeto, causa um problema de um impacto de R$ 9 bilhões, o que preocupa a Economia. O governo não teve força no Senado para segurar isso em uma comissão terminativa. O problema veio para a Câmara”, ressaltou.

O presidente da Câmara acrescentou que a proposta ainda não foi debatida com o governo. “O que está se discutindo do projeto do senador Jaques Wagner, que é líder do governo, foi feito anteriormente, claro, quando ele fazia parte da oposição, foi de uma adequação desse projeto, que é mais modulado, trata as coisas com mais aprofundamento nas discussões, para que talvez esse fosse uma alternativa à emenda do Senado”, contou.

“Eu tenho informações, claro, que a Fazenda é contra. Mas há de se encontrar uma solução para esse problema. Vamos discutir isso essa semana. Não tem ainda uma posição firmada.”

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Desoneração da folha de pagamentos foi criada por Dilma e prorrogada por Temer e Bolsonaro

A redução da carga tributária sobre a folha de pagamento para determinados setores da economia foi instituída em 2011, no governo de Dilma Rousseff (PT), proposta pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o objetivo de incentivar contratações.

Em 2014, quando Dilma disputaria a reeleição, a lista de setores beneficiados chegou a ser ampliada para 56. No ano seguinte, o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reduziu a desoneração, elevando as alíquotas, e classificou o benefício concedido até então como uma “brincadeira” que “se mostrou extremamente cara”.

“Essa brincadeira [desoneração da folha] nos custa R$ 25 bilhões por ano, e vários estudos nos mostram que isso não tem protegido o emprego. Tem que saber ajustar quando não está dando resultado”, afirmou, na ocasião. “Não deu os resultados que se imaginava e se mostrou extremamente caro. A gente não está eliminando, está reduzindo [o benefício]”, disse.

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Em 2018, o governo de Michel Temer (MDB) chegou a propor ao Congresso a manutenção da desoneração para apenas três setores, mas os parlamentares modificaram o projeto do Executivo de modo a fixar em 28 os setores contemplados com o benefício.

Na sanção do texto, o então presidente vetou a manutenção de 11 deles, consolidando a atual lista de 17 segmentos beneficiados, que teriam desconto na contribuição previdenciária até dezembro de 2020.

Já no governo Bolsonaro, com Paulo Guedes no comando do Ministério da Economia, o benefício foi prorrogado duas vezes. Em 2020, o Congresso estendeu o prazo até o fim de 2021. A medida foi vetada pelo então presidente, mas o veto foi derrubado por deputados e senadores.

No ano seguinte, cedendo a pressões dos empresários, Guedes concordou em renovar a desoneração por mais dois anos, estabelecendo o atual prazo, que vai até 31 de dezembro de 2023.

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