Ao contrário do que se poderia imaginar, a alta do dólar em pouco mais de R$ 0,30 em 12 meses não favoreceu a compra de produtos importados no Brasil. Segundo levantamento feito em lojas do Brasil e Estados Unidos, 15 itens entre eletrônicos, roupas, tênis e até livros ainda são mais caros aqui. Os preços nos EUA chegam a ser 65% inferiores aos do Brasil, mesmo considerando a taxa de câmbio do turismo, sempre acima do câmbio comercial.

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"Desde que a taxa de câmbio ficou mais baixa, a indústria brasileira não consegue competir com o exterior. Alguns insumos até têm conseguido ficar mais baratos do que no exterior, como alguns tecidos, mas em geral o produto final ainda é mais caro", diz o professor de economia da ESPM-RJ, Roberto Simonard.

Um dos motivos que explicam a diferença de preços é essa baixa competitividade causada por custos maiores no mercado local. "O preço ilustra a ineficiência da nossa infraestrutura. O custo de transporte e logística para trazer um produto da China, por exemplo, é muito maior do que nos Estados Unidos", completa o professor da Fipecafi, Mario Amigo.

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A ineficiência passa pelo problema da burocracia para importar e em diversos outros âmbitos. "Uma importação pode chegar a demorar de dois a três meses para ser liberada. Há estimativas de que a burocracia em geral represente 40% do custo de uma empresa, o que acaba sendo repassado no preço dos produtos", diz o professor da Fecap, Erivaldo Vieira.

Outro motivo apontado por especialistas é a alta carga tributária. Um perfume importado da marca Lacoste, por exemplo, apresentou preço 61% menor nos Estados Unidos do que no Brasil. Sobre perfumes importados, é cobrado um imposto de 78,43% no País.

"É uma questão não somente de diminuir os impostos, mas deixá-los mais transparentes, na embalagem dos próprios produtos. A transparência aumenta a concorrência, porque o consumidor passa a entender o que realmente paga", avalia o professor do Insper, Ricardo Rocha.

Em alguns casos, como em relógios e livros, há a questão do ganho de escala. "A economia dos Estados Unidos é dez vezes maior que a nossa. É muito diferente produzir 200 mil relógios em vez de 20 mil. Os custos ficam reduzidos, mais diluídos", analisa Vieira.

Diferença

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Não é à toa que os gastos de brasileiros no exterior no primeiro trimestre bateram recorde e somaram US$ 5,38 bilhões. A economia pode ser grande ao comprar produtos em outro país. Entre os 15 produtos pesquisados, a maior diferença de preços foi observada em um relógio da marca Timex. Nos EUA, o produto é 65,72% mais barato do que no Brasil.

Entre os eletrônicos, o celular Galaxy teve a maior diferença, de 62,16%. O videogame Playstation 3, item muito consumido por brasileiros lá fora, é vendido pela mesma loja nos Estados Unidos por um preço 50% menor, e lá o produto ainda vem com um jogo e uma câmera com sensor de movimento. Na compra do Ipad 2, de 16 gigabytes, o consumidor encontra um valor 43% mais baixo nos EUA.

Mas até em itens inusitados, como chocolate, há uma grande diferença de valores. Na caixa do chocolate Ferrero Rocher, com 24 unidades, o preço nos EUA é 49% menor. O item de menor diferença foi o uísque Black Label 12 anos (18%).

Tamanha diferença, porém, pode representar uma armadilha para o turista. "As regras da Receita Federal devem ser muito bem observadas", lembra Rocha. Brasileiros não pagam imposto, por exemplo, na compra de máquinas fotográficas, relógios de pulso, joias e celulares usados. As aquisições estão limitadas a 20 produtos e há tarifa caso o valor ultrapasse US$ 500 por via aérea. "Se o objetivo é comprar, também não é indicado viajar com muita bagagem, para não pagar sobrepeso no avião", diz Amigo.

Além de ir com um orçamento já limitado de gastos, a melhor opção é utilizar dinheiro em espécie. "Deve-se tomar cuidado com a variação cambial do cartão de crédito", afirma Simonard, ao lembrar que em geral as parcelas são calculadas de acordo com o fechamento do câmbio no futuro. Além disso, no cartão de crédito há o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.

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