O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, afirmou ontem que o Banco Central Europeu (BCE) "poderia fazer mais" para solucionar a crise de endividamento que assola alguns países da zona do euro. Em seu discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, Cameron defendeu a adoção de medidas de curto prazo para restaurar a confiança e incentivar o investimento na zona do euro.
O premiê aconselhou os líderes da União Europeia (UE) a serem mais ousados com o intuito de cessar os problemas econômicos no que chamou de momento "trabalhoso" para a região. As prioridades do bloco, segundo ele, são a Grécia, o setor bancário e os programas de resgate. "A verdade é que não podemos mais esperar muito tempo por isso", alertou.
O premiê britânico criticou também a intenção da UE de impor uma taxa sobre transações financeiras. "Implementá-la em um momento de crise seria insano", defendeu. Segundo Cameron, é justo que o setor financeiro pague sua parte e a Inglaterra já faz isso por meio de suas taxas sobre bancos e ações.
A ideia apresentada pela Comissão Europeia poderia reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) da UE em 200 bilhões de euros por ano, provocar o corte de 500 mil funcionários e forçar 90% dos mercados a sair da UE, argumentou o premiê.
Enquanto Cameron citou a Grécia como prioridade, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que "talvez haja um foco excessivo nos temores com a Grécia". "Sei que há muita atenção na Grécia, mas o país representa apenas 2% da zona do euro", afirmou. Para ele, o foco na Itália e na Espanha é mais importante.
O executivo-chefe do JPMorgan, Jamie Dimon, foi pela mesma linha. Não querendo diminuir os problemas da Europa, Dimon disse que Grécia, Portugal e Irlanda não são a principal questão. "O verdadeiro problema é a Espanha e a Itália", disse.
Segundo Dimon, o impacto de um possível default da Grécia nos bancos dos Estados Unidos seria insignificante e, embora existam chances de um desfecho ruim na Europa, ele não está preocupado com surpresas desagradáveis na região. "O impacto direto de um default da Grécia é quase zero, não é algo que derrubará o mundo ocidental", afirmou.
Sem China
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, negou que estejam ocorrendo negociações em Davos entre a Europa e a China sobre a compra da dívida soberana europeia. Os endividados europeus têm pedido à China, dona de US$ 3,2 trilhões em reservas, para que invista no fundo de resgate europeu; os chineses, no entanto, limitam-se a afirmar que "continuarão apoiando" os esforços da UE.