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O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, abriu diálogo com líderes e representantes dos caminhoneiros na tentativa de desmobilizar a convocação de paralisação nacional para 1º de novembro. Entre a noite de terça-feira (26) e a tarde desta quarta-feira (27), o gabinete dele convidou lideranças da categoria para uma reunião no ministério nesta quinta-feira (28), às 15 horas.
Os retornos obtidos até o momento pelo Ministério da Infraestrutura, contudo, são tímidos. Segundo afirmam líderes da categoria à Gazeta do Povo, poucos confirmaram presença até o momento. A estratégia das lideranças favoráveis à paralisação é de esvaziar a reunião de quinta para mostrar unidade e apoio à convocação, mas mesmo caminhoneiros contrários a uma greve também rejeitaram o convite.
Parte dos caminhoneiros que recusaram o convite alega que não confia mais em Tarcísio como negociador do governo junto à categoria. Essa parcela, contudo, mantém o interesse em negociar diretamente com o presidente Jair Bolsonaro e com os presidentes dos demais poderes. Já os contrários à paralisação atribuem sua rejeição ao convite alegando que os demais convidados são sindicalistas que não representam os transportadores autônomos.
Apesar da promessa de esvaziamento por parte de alguns líderes, o Ministério da Infraestrutura assegura que a reunião de quinta está mantida e que não há desistências.
O que o Ministério da Infraestrutura tem feito para evitar a paralisação
A reunião que Tarcísio de Freitas terá com os caminhoneiros na quinta não é a primeira. Ele tem se reunido com lideranças setorizadas há algum tempo, tendo, inclusive, recebido o presidente da Associação das Transportadoras de Combustíveis e Derivados do Petróleo do Rio de Janeiro (Associtanque-RJ), Ailton Gomes, na terça-feira (26).
Tarcísio ouviu de Gomes duas sugestões para abaixar o preço do óleo diesel. Uma delas envolve adicionar biodiesel ao óleo diesel vendido nas bombas aos caminhoneiros. A outra envolve oferecer algum tipo de subsídio para que as usinas de cana-de-açúcar possam reduzir os custos de etanol e, consequentemente, a gasolina. A ideia é que, com isso, o custo em toda a cadeia seja reduzido.
Por conta dessas sugestões, Gomes foi convidado por Tarcísio para a reunião de quinta-feira, a fim de explicá-las a alguns líderes da categoria que estão dispostos a dialogar e não tem apelado para a convocação de paralisação da categoria. O presidente do Associtanque-RJ sugeriu, contudo, que o ministro convidasse todos.
O ministro definiu, portanto, que até alguns líderes favoráveis à paralisação seriam convidados, à exceção de representantes das entidades responsáveis por convocar a paralisação: a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC).
A agenda da reunião tem como pautas o "transporte rodoviário de cargas" e uma "possível paralisação em 1º de novembro". A reunião, que começaria às 14h, foi adiada para às 15h, segundo informação recebida pelos caminhoneiros de uma assessora que cuida da agenda do ministro. O convite diz que, pelo Ministério da Infraestrutura, participarão Tarcísio de Freitas e o assessor do ministro Alan Macabeu.
Pelos caminhoneiros, foram formalmente convidados por e-mail Ailton Gomes, do Associtanque-RJ, e representantes da região da Baixada Santista (SP), de Barra Mansa (RJ), de São José dos Campos (SP), de Pindamonhangaba (SP), de Confresa (MT), de Pelotas (RS) e de Itati (BA). Outros líderes afirmam ter sido convidados por mensagem de WhatsApp e por ligações telefônicas.
O que dizem os líderes que recusaram a reunião com Tarcísio de Freitas
O líder caminhoneiro Odilon Fonseca, de Confresa (MT), um dos mencionados no e-mail enviado pelo Ministério da Infraestrutura, recusou o convite por entender que, além dele, foram chamados outros que, no entendimento dele, não representam a categoria dos transportadores autônomos.
"Não vou participar porque não é uma reunião com caminhoneiros, mas com sindicalistas, gente que não tem caminhão, é ex-caminhoneiro. São pessoas que não sabem quanto custa uma arruela e um parafuso de caminhão. Eu não vou me misturar com esse tipo de gente", declara. "É aquele negócio: quem se mistura com porco come o farelo", complementa Fonseca, que é contra a paralisação.
Já o líder autônomo Marcelo Paz, que defende a paralisação e atua na região da Baixada Santista, afirma ter sido convidado por ligação e negado a participação na reunião por entender que Tarcísio não tem condições de resolver os problemas da categoria. "São três anos discutindo isso. É como se fosse um protocolo, dizer que convoca uma reunião para dizer que estão abrindo o diálogo", justifica.
O líder autônomo Janderson Maçaneiro, o "Patrola", que atua na região portuária de Itajaí (SC), também diz ter sido convidado e negado o convite. "Estou em Santa Catarina, ir a Brasília não é como atravessar a rua. Não vou participar por causa disso, caso contrário, eu iria. Abrir o diálogo é o caminho", explica. Patrola, que se diz neutro em relação à paralisação, acredita, contudo, que alguns líderes podem vir a participar.
O líder Aldacir Cadore, de Luziânia (GO), foi outro a rejeitar o convite para a reunião. "Vou fazer o que lá? O que vou conversar sobre uma paralisação? Não tem o que conversar, é só perda de tempo. Dois anos e pouco de conversas e o ministro acha que vai resolver agora, em cima de uma paralisação", critica. "Eu acredito que o Tarcísio não vai conseguir desmobilizar a paralisação porque os caminhoneiros não confiam mais no que ele fala", acrescenta.
O que diz Tarcísio sobre a convocação de greve dos caminhoneiros
O clima entre caminhoneiros e o ministro Tarcísio de Freitas não é dos melhores. Como informou a Gazeta do Povo, os transportadores autônomos prometem engrossar as críticas ao ministro. "Se houver a possibilidade de nós participarmos por videoconferência e o ministro alterar a voz com nós, ele vai escutar", ameaça um dos líderes.
Já Tarcísio minimiza a possibilidade de uma paralisação nacional e confia que a grande maioria dos caminhoneiros não vai paralisar. "A gente tem conversado com várias lideranças, obviamente com as dificuldades que nós temos agora, o fato de serem difusas, são muitos líderes e a gente percebe clara divisão", declarou à Jovem Pan ao fim de um almoço nesta quarta organizado pela Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.
"Mas tem muita gente querendo trabalhar porque o mercado está aquecido, estamos em momento de preparo para a safra. É o momento de levar renda para casa. A gente está tomando as medidas que são possíveis e tentando explicar a nossa limitação até de enfrentar os problemas", complementou Tarcísio.
Em conversa com a imprensa, o ministro disse que os caminhoneiros devem repassar o custo de aumento de diesel e de outros insumos ao preço do frete negociado com as transportadoras e embarcadoras, e não aceitar qualquer valor de frete. "Ele [caminhoneiro] precisa calcular qual é o valor dele, negociar isso, repassar para o preço dele e se organizar para ele ter poder de barganha para cobrar daquele que o contrata", declarou.
O ministro da Infraestrutura também defendeu os R$ 400 oferecidos em forma de um auxílio à categoria. "Se parar para pensar que o cara às vezes tem uma renda de R$ 3 mil, R$ 2 mil, R$ 400 vai ser 20% a mais na renda dele, é uma ajuda importante", justificou. Ele admitiu, contudo, que o assunto é polêmico e pode ser abandonado. "Seria um sacrifício do governo, um esforço fiscal para tentar dar a mão para uma categoria tão importante que movimenta o Brasil, mas como a reação não foi boa, eu não sei se o governo vai seguir em frente", complementou.
Quanto à possibilidade de empresas apoiarem a paralisação — o que configuraria locaute —, Tarcísio disse não temer tal risco. "Não temo. A gente conversou com a CNT [Confederação Nacional do Transporte], as empresas estão focadas em trabalhar bastante", disse. "Tem muito trabalho, o mercado está superaquecido, construção civil está bombando, agronegócio bombando, estamos na época de transporte de semente, por isso que boa parte dos caminhoneiros não querem saber de parar, é a hora de botar renda para dentro de casa", acrescentou.