Sem acordo com o governo federal para tabelar o valor do frete, caminhoneiros voltaram a paralisar rodovias em pelo menos quatro estados nesta quinta-feira (23). A mobilização começou nas primeiras horas da manhã, quando manifestantes fecharam a BR-386 em Soledade, região norte do Rio Grande do Sul. Como aconteceu no protesto de fevereiro, pelo menos 20 caminhoneiros que tentaram furar os bloqueios tiveram os veículos apedrejados.
Ainda de manhã, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), havia 17 pontos de paralisação em rodovias do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso. Em Santa Catarina, os motoristas foram impedidos de fechar as rodovias pela PRF, mas se concentraram nas margens da BR-282, em São Miguel do Oeste e Maravilha, e da BR-153, em Concórdia e Irani. Em Maravilha, manifestantes fizeram uma barricada na rodovia e atearam fogo, mas as chamas foram logo controladas. De madrugada, houve barricadas com incêndios também no Rio Grande do Sul.
No Paraná, houve manifestações nas rodovias 163 (Barracão), 376 (Marialva), 277 (Medianeira e Laranjeiras do Sul) e 369 (Arapongas). Destes, apenas o trecho da 376 tinha bloqueio parcial no fim da tarde desta quinta. Somente carros de passeios tinham o trânsito liberado.
Em Mato Grosso, os caminhoneiros montaram barracas nas margens de rodovias, mostrando a intenção de dar sequência ao protesto. Até o final da tarde, o movimento não havia atingido o estado de São Paulo, mas entidades de caminhoneiros se manifestaram pelas redes sociais pela adesão ao protesto.
De acordo com a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), as lideranças dos caminhoneiros pretendem manter as manifestações até o que o governo retome as negociações para adoção de uma tabela de preços mínimos para o frete. Para Miguel Mendes, presidente da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATC-MT), a tabela é necessária para estabelecer um equilíbrio nas negociações, já que atualmente o valor do frete é imposto pelas empresas donas das cargas.
Nos últimos 30 dias, segundo ele, houve queda de 20% no preço, o que acirrou os ânimos dos caminhoneiros. A categoria reclama também que o acordo feito no início de março com o governo foi cumprido apenas parcialmente. Um dos itens, o fim da cobrança de pedágio por eixo suspenso nos caminhões, não vale para as rodovias estaduais paulistas, usadas por 50% da frota. Ainda não foi votada pelo Senado a medida que prorroga o financiamento dos caminhões. “Para o caminhoneiro, a sensação é de que ele ganhou, mas não levou”, disse.