O brasileiro paga muito imposto, mas não sabe disso. No ano passado, União, estados e municípios arrecadaram R$ 732,87 bilhões em tributos, o que equivale a 37,85% do Produto Interno Bruto (PIB). Um recorde, que deixou para trás os 36,8% de 2004 e faz qualquer um duvidar que há duas décadas esse porcentual estava próximo de "discretos" 20%. As cifras, levantadas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), contrastam com uma pesquisa do instituto Ipsos Opinion, segundo a qual 74% da população nem sequer sabe o que é imposto. E os que sabem lembram muito mais do IPTU (68%), que incide sobre imóveis, e do IPVA (28%), cobrado dos proprietários de veículos. Poucos lembram do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), embutido em cada produto que se compra, da margarina ao sabão em pó.

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Para reverter esse quadro, um grupo de entidades capitaneadas pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e pelo IBPT trazem amanhã para Curitiba a campanha "De olho no imposto", que pretende tornar obrigatória a inclusão, nas notas fiscais, do valor que o consumidor está pagando em impostos na compra de cada produto. A idéia é coletar 1,5 milhão de assinaturas para encaminhar ao Congresso um projeto que vai regulamentar o parágrafo 5.º do artigo 150 da Constituição – o texto prevê que o consumidor seja informado sobre os impostos que incidem em produtos e serviços.

"A partir do momento em que o cidadão, principalmente o das camadas mais pobres, toma conhecimento do tamanho do desembolso em impostos, ele passa a exigir melhores condições de tratamento", diz Guilherme Afif Domingos, presidente da ACSP. "Se você fizer as contas, o montante de sua renda que vai para o pagamento de impostos não vai ficar em menos de 40%. Isso significa que você trabalha no mínimo 150 dias por ano para o governo. Como o brasileiro continua a achar que o estado dá saúde, educação, tudo de graça, acaba não cobrando o atendimento que merece." Depois de percorrer 30 cidades de São Paulo, Afif Domingos fará sua primeira palestra sobre o assunto no Paraná amanhã, às 10 horas, na sede do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (Rua XV de Novembro, 2987).

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No site do movimento (www.deolhonoimposto.org.br), o consumidor pode saber, por meio do Sistema Permanente de Acompanhamento das Receitas Tributárias – apelidado de "impostômetro" – o quanto já pagou em impostos desde o início do ano. O mostrador, que usa uma metodologia criada pelo IBPT, já ultrapassa a marca dos R$ 208,5 bilhões, o que corresponde a cerca de R$ 25 mil por segundo – nesse ritmo, o total do ano tende a ultrapassar os R$ 800 bilhões. Na seção "calculadora do imposto", basta preencher alguns dados, como salário e gastos em saúde, educação e supermercado, para saber o quanto cada pessoa já recolheu desde o início do ano.

Na mesma página, o cidadão pode também aderir ao abaixo-assinado que será encaminhado ao Congresso. A meta, segundo Afif Domingos, é entregar a proposta ao Senado até a metade do ano. "No Senado, com bons padrinhos, multipartidários, acredito que conseguiremos aprovar o texto neste ano. Na Câmara, ficaria para o ano que vem."