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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para aproximar a instituição do governo. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (13), Campos Neto negou que tenha atuado de forma política no comando do BC.
“O Banco Central é uma instituição de Estado, precisa trabalhar com o governo sempre. Estamos sempre abertos a trabalhar com o governo, a colaborar. Eu entendo que existe pressa da parte do presidente Lula, eu entendo que existe uma agenda social”, afirmou. “O Banco Central precisa trabalhar junto com o governo e eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o Banco Central do governo”, acrescentou.
Questionado sobre sua proximidade com ex-integrantes do governo Bolsonaro, ele ressaltou que é importante diferenciar proximidade com independência de atuação. “Se o Banco Central tivesse leniente, se quisesse participar politicamente, não teria subido o juro, teria até feito até uma política para estourar a inflação, mas foi uma coisa que não fez”, disse.
O economista lembrou que durante a campanha presidencial de 2022 “houve uma tentativa de politizar o Pix”. Campos Neto afirmou que recebeu políticos de diversos partidos no BC. “Acho que eu sempre atuei para isolar o Banco Central do círculo político”, disse.
Mudar meta de inflação agora terá efeito oposto ao desejado, diz Campos Neto
O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve se reunir na quinta-feira (16) pela primeira vez desde o início do governo Lula. O colegiado é formado por Campos Neto e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento, Simone Tebet, e tem entre suas responsabilidades a definição da meta de inflação.
Na entrevista ao Roda Viva, Campos Neto afirmou que tem conversado com os ministros Haddad e Tebet sobre o cenário econômico, mas negou que o BC estude alterar a meta – que hoje é de 3,25% para 2023 e 3% para os dois anos seguintes, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou as metas atuais e defendeu o patamar de 4,5% que vigorou em seus mandatos anteriores.
"Importante dizer que nós não estudamos mudança de meta. Não entendemos que a meta é um instrumento de política monetária", afirmou o presidente do BC. "Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter um efeito contrário ao desejado. Ao invés de ganhar flexibilidade, você pode terminar perdendo flexibilidade."
Segundo ele, uma alteração neste momento levaria as expectativas de inflação para além da nova meta, com um "prêmio" de risco ainda maior.
Campos Neto disse ainda que o BC realiza estudos para o aprimoramento do sistema de metas para “melhorar a eficiência do cumprimento das metas”. O economista não detalhou quais seriam as propostas de aprimoramento para a meta, mas disse que parte deles foi divulgada nos jornais.
Na segunda-feira (13), texto do "Valor" afirmou que uma possibilidade em estudo seria adoção de uma "meta contínua" de inflação, com o BC agindo para manter a inflação dentro desse objetivo o tempo todo, em vez do atual regime de metas anuais, no qual a autoridade monetária busca atingir determinada meta ao fim do ano.
Lula tem criticado atuação do Banco Central e chamou autonomia de "bobagem"
Nas últimas semanas, Lula fez reiteradas críticas ao Banco Central (BC) e à atuação de Campos Neto. O presidente chegou a dizer que a autonomia da autarquia, aprovada pelo Congresso em 2021, é “bobagem”. Além disso, Lula criticou taxa básica de juros, definida pela autoridade monetária.
"Não é possível que a gente queira que este país volta a crescer com taxa de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país. Ele tem muita responsabilidade", disse Lula.
No último dia 1º, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. O índice está em vigor desde agosto de 2022. Durante a entrevista ao Roda Viva, o economista afirmou que o BC "não gosta de juros altos".
"O Banco Central não gosta de juros altos. A nossa agenda toda é social. A gente acredita que é possível fazer fiscal junto com bem-estar social, mas é difícil ter bem-estar social com inflação descontrolada", pontuou.
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