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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, criticou a decisão do governo de rever a meta fiscal prevista para 2025, que passou a ser de déficit zero em vez de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Campos Neto, esse tipo de alteração torna o trabalho do BC mais difícil.
A mudança foi anunciada nesta segunda-feira (15) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sete meses após a sanção do arcabouço fiscal, o novo regime fiscal do governo.
“Sempre que há uma mudança no governo que torna a âncora fiscal menos transparente ou menos crível, significa que você tem que pagar com custos mais altos do outro lado, então o custo da política monetária se torna mais alto [...] Torna nosso trabalho muito mais difícil se houver a percepção de que não há uma âncora fiscal, porque a âncora fiscal e a âncora monetária precisam trabalhar juntas”, afirmou Campos Neto em evento nos Estados Unidos, nesta segunda-feira (15).
A mudança retarda o ajuste fiscal e piora a trajetória da dívida pública, mas já era esperada por conta das dificuldades do governo em aprovar projetos junto ao Congresso que aumentam a arrecadação.
Para Campos Neto, o ideal é que as metas não sejam alteradas e que se faça “o máximo possível de esforço” para alcançar os objetivos estabelecidos.
“Se, por algum motivo, você tiver que fazer um desvio nisso, é muito importante comunicar bem, porque se as pessoas perderem a confiança na âncora fiscal, então a âncora monetária é afetada, e vimos isso repetidamente em nossa história”, disse.
Na visão do presidente do BC, “o fiscal está se tornando cada vez menos coordenado com o monetário” na maior parte do mundo.
“Não há nada mais permanente do que um programa temporário de despesas. Essa é uma frase que emprestei do Milton Friedman. Mas você vê isso em muitos lugares diferentes, e acho que isso se tornará um problema”, completou Campos Neto.