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O presidente do Banco Central (BC) do Brasil, Roberto Campos Neto, disse que as críticas feitas pelo presidente Lula (PT) contra a condução da política monetária e autonomia do BC atrapalham o controle da inflação. A declaração foi dada durante entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, nesta sexta-feira (28).
“Quando você tem uma pessoa da importância do presidente questionando aspectos técnicos da decisão do Banco Central, gera um prêmio de risco na frente. O prêmio de risco sempre faz com que você tenha que olhar o desenvolvimento dessas variáveis e como isso impacta a nossa política. Então, de certa forma, quando você tem um questionamento em relação ao trabalho técnico do Banco Central, sim, impacta o canal de transmissão de política monetário”, afirmou Campos Neto.
“Mas não cabe ao presidente do Banco Central ficar respondendo ou questionando o que foi dito pelo presidente da República. O que a gente tem que fazer é comunicar: 'Olha, se for ter um questionamento em relação a isso, isso ou isso, vai gerar mais prêmio de risco. Gerando mais prêmio de risco, vai ter uma incerteza maior. Essa incerteza maior acaba fazendo com que o nosso trabalho fique mais difícil. O nosso trabalho ficando mais difícil, significa que a convergência da inflação é mais lenta e significa que a gente vai demorar mais tempo para atingir uma situação de inflação mais baixa com juros mais baixos, que é o que todos queremos. No fim, todos queremos a mesma coisa. Todos nós queremos ter uma inflação baixa controlada, juros baixos, crescimento saudável e geração de emprego. Nossa missão no final das contas é a mesma”, completou.
Campos Neto foi alvo de novas críticas de Lula e aliados por manter a Selic em um patamar elevado, mesmo após diretores indicados pelo governo também votarem a favor.
Na quinta -feira (27), Campos Neto apresentou o Relatório Trimestral de Inflação que elevou a estimativa do índice de 3,5% para 4% neste ano, e que já havia sido previsto na ata do Copom divulgada na terça (25).
O presidente do BC ressaltou que a decisão de manter a taxa de juros em 10,5% interrompendo o ciclo de cortes foi tomada “com espírito de equipe para mostrar que o movimento é técnico”.
Em outro trecho da entrevista ao jornal Valor Econômico, Campos Neto disse que “a taxa de juros é suficientemente alta” para que seja possível, a longo prazo, trazer a inflação para a meta.
“Já houve no passado momentos em que a gente desenhou os cenários alternativos para mostrar que a taxa de juros é suficientemente alta, que num período mais longo ela traz a inflação para a meta. Estava tendo muito ruído em torno dos números de curto prazo. A gente entende que essa é uma informação valiosa a mais para os agentes”, afirmou.
Questionado se BC estaria pronto para subir os juros, Campos Neto disse que a previsão “não é de alta e não é de queda”.
"Não é o nosso cenário base a alta. A comunicação está muito compatível com não dar um ‘guidance’ nesse momento, o que não significa que o Banco Central não vai estar vigilante. Vai estar olhando e entendendo, principalmente, esses ruídos que fizeram com que o prêmio de risco subisse bastante [...] Hoje a comunicação é compatível com um cenário base, que não é de alta e não é de queda. A comunicação está direcionada ao fato de que teve uma interrupção, a gente precisa de tempo para observar”, completou.