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Taxa de juros

Campos Neto diz a senadores que juros e inflação poderiam estar maiores

Roberto Campos Neto
Em audiência no Senado, Campos Neto afirmou ainda que não sabe quando taxa básica de juros começará a ser reduzida. (Foto: Pedro França/Agência Senado)

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça (25) que a taxa de juros e a inflação poderiam estar em patamares mais elevados se não fosse a atuação independente da autoridade monetária, e que não sabe quando a Selic começará a ser reduzida.

As afirmações foram dadas durante uma sessão na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado em que foi convidado para prestar esclarecimentos sobre a política monetária nacional (assista na íntegra). Aos senadores, Campos Neto reforçou as declarações que têm dado em resposta às críticas feitas por membros do governo por conta da taxa de juros a 13,75%, neste patamar desde agosto do ano passado (veja evolução).

Campos Neto voltou a afirmar que as decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) são técnicas para definir a taxa de juros e que ele é apenas um voto entre os nove integrantes do colegiado. Afirmou, ainda, que a política monetária tem sido conduzida corretamente, e que nenhum presidente do Banco Central fica feliz em elevar a Selic, mas que a equipe tem a obrigação de seguir a meta de inflação definida pelo Comitê Monetário Nacional (CMN).

Embasado por uma apresentação, o presidente da autoridade monetária disse aos senadores que a atuação independente do Banco Central fez a taxa de juros ser elevada mesmo durante o período eleitoral, e que uma interferência política poderia ter resultado em uma inflação em 2022 próxima de 10% e uma taxa de juros a 18,75%.

“É importante entender que o Banco Central atuou de forma autônoma e antes. Quando mais cedo você atua, menos custo tem para a sociedade. O Banco Central atua de forma muito técnica e, desde 2019, se expressa em suas atas quando verifica uma vulnerabilidade fiscal”, afirmou.

De acordo com ele, o BC quer e “gosta de trabalhar com os juros baixos, de ter a economia crescendo de forma sustentada, com inflação baixa”. Campos Neto explicou que, no passado, houve períodos em que os juros reais eram altos no país enquanto que, no resto do mundo, eram baixos. Mas, não é o que está acontecendo agora.

A meta de inflação para 2023 está calculada em 3,25% com uma margem de 1,5% para mais ou para menos. No entanto, o mercado prevê uma alta de 6,04% ao final do ano segundo o Relatório Focus desta semana.

Equilíbrio entre políticas fiscal e social

Ainda durante a audiência, Campos Neto afirmou entender os efeitos da inflação sobre a população, principalmente a de menor renda, e que entende ser possível ter uma política fiscal que não afete diretamente o social. De acordo com ele, há estudos que comprovam a correlação da inflação com a desigualdade social, e que, por isso, o Banco Central precisa perseguir a meta – “é uma missão muito social”, disse.

“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal e, infelizmente, nem bala de prata. Se não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar”, ressaltou em referência ao novo arcabouço fiscal que pretende tornar o controle do crescimento da dívida mais rígido.

Para ele, a inflação alta afeta também os empresários, que não conseguem fazem um planejamento eficiente de longo prazo para os negócios. O presidente da autoridade monetária criticou afirmações de especialistas que o país estaria afundando em uma recessão.

Campos Neto também comentou as críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inclusive durante a viagem à Europa nesta semana, e disse que ele tem todo o direito de falar sobre os juros.

“Minha função é explicar de forma técnica como o Banco Central vê isso. O Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país passa. É ator, está no mesmo barco que o governo sempre. E tem de buscar harmonia com o governo e buscar achar solução para os problemas do país”, mencionou

Também foi questionado pelos senadores sobre um erro cometido pelo Banco Central ao divulgar o fluxo cambial de dólares que entram e saem do país em 2022, que passou de uma entrada líquida de US$ 9,5 bilhões para uma saída de US$ 3,23 bilhões entre outubro de 2021 e dezembro de 2022. Ele respondeu dizendo que a autoridade fez uma varredura interna para “entender os processos que levaram ao erro” e que foi um fato sem intenção.

PT critica falas de Campos Neto

Enquanto falava aos senadores, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), foi às redes sociais criticar as declarações de Campos Neto. Ela publicou que o presidente da autoridade monetária estava “fazendo política” na sessão, e que isso “não é papel de presidente de Banco Central”.

“Hoje pelo menos foi ao Senado pra prestar contas, mas continua falando besteiras. O papel dele é controlar a inflação. São quase dois anos sem atingir a meta, mesmo com juros estratosféricos. Senado precisa tomar providências”, disse no Twitter.

Segundo dados apresentados por Campos Neto durante a audiência, a inflação estourou o teto da meta em 2021, quando atingiu 10,1% (meta de 3,75%), e em 2022, com 5,8% (meta de 3,5%).

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