São Paulo - Uma rede social em que, em vez de fotos, músicas ou trivialidades do dia a dia, os usuários trocam fragmentos de conhecimento. Esse é o princípio do Kunigo, projeto de desenvolvimento coletivo de softwares e soluções para comunicação na internet que entra no ar hoje. A iniciativa, elaborada pelos ilustradores Daniel Roda e Eduardo Malpelli, foi lançada na Campus Party 2010, encerrada ontem, e diz muito a respeito da terceira edição da maior feira de tecnologia do país. Um evento em que o faça você mesmo guiou a maioria das inovações apresentadas.
O Kunigo possui duas faces. Em uma, os usuários listam tarefas a serem cumpridas; na outra, apresentam soluções já existentes. A partir da combinação entre uma necessidade e um conhecimento antigos, surge um aplicativo novo, de código aberto, a ser usado e aperfeiçoado por quem tiver interesse. "O desafio é juntar um número de pessoas dispostas a colaborar e unificar ideias", disse Roda.
A unificação de ideias também levou o compositor, empresário e blogueiro Fernando Arias a aperfeiçoar uma novidade da Campus Party 2009. Com o auxílio de uma operadora de telefonia, Arias instalou um orelhão para ligações gratuitas por Voip no meio do Centro de Exposições Imigrantes. Criada com o objetivo de protestar contra o alto custo das ligações convencionais, a iniciativa ganhará um viés social. Em parceria com a Rede Índios Online, o projeto será levado a comunidades indígenas, com recursos captados via Lei de Incentivo à Cultura.
"Em 2007, as ligações de Voip foram queimadas, ficaram com a imagem de serviço sem qualidade. O nosso objetivo é mostrar que a qualidade melhorou e que é muito mais barato fazer ligações pela internet", explicou Arias, que calcula em aproximadamente R$ 2 mil o custo de cada orelhão (somando a estrutura e o custo com operadora de internet).
Em outra ação coletiva, blogueiros começaram a criar uma associação para defender a liberdade de expressão na rede. A ideia surgiu durante um debate sobre Direito e Internet, com especialistas das áreas jurídica e de comunicação. A entidade é inspirada na Electronic Frontier Foundation (EFF), ONG norte-americana que atua nesse segmento, prestando defesa gratuita a blogueiros. A versão nacional, contudo, precisará de algumas adaptações, impostas por restrições previstas no Código de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil à defensoria gratuita e à criação de fundos para a contratação de advogados.
"Tão importante quanto a defesa é uma ação preventiva. O blogueiro padrão precisa ser treinado para entender o que pode e não pode", disse o advogado Marcel Leonardi, especialista em Direito e Internet. Ele participou do debate e foi prontamente escolhido como consultor informal da associação (leia entrevista ao lado).
O jornalista viajou a convite da Campus Party 2010.