Era meio-dia de quarta-feira (16) quando o diretor de marketing do WTC Business Club, Diego Pettinazzi, abriu uma reunião com 50 empresários e executivos do Paraná dando a notícia de que o ex-presidente Lula seria ministro-chefe da Casa Civil. “É algo que não me deixa animado. Mas, enfim, estamos aqui para discutir perspectivas”, disse. A nomeação de Lula, confirmada duas horas depois, e a divulgação de uma conversa telefônica dele com a presidente Dilma Rousseff elevaram a níveis inéditos a incerteza sobre o futuro da política e da economia.
Indústria planeja um dia de cada vez
Até então, a principal dúvida era quanto ao prazo de vencimento de um governo sem articulação no Congresso, sob ameaça de impeachment e acuado pelo avanço da Operação Lava Jato. Agora, também não se sabe que rumo a política econômica tomará com a volta de Lula ao Planalto.
Consumidor muda hábitos e evita gastos
Leia a matéria completaNo encontro do WTC, o diretor comercial da Livrarias Curitiba, Marcos Pedri, resumiu a inquietação dos colegas. “Quando o país voltará ao normal?”, perguntou ao economista Paulo Funchal, da consultoria Grand Thornton. Ficou sem resposta. “Supondo que Dilma caia, e independentemente de quem tomar seu lugar, daqui a dois anos poderemos ter o início de uma retomada. Mas isso depende do que acontecer até lá”, disse Funchal.
Esgotamento
“Num ambiente em que o futuro é tão incerto, consumidores e empresários deixam de agir”, diz a economista Roberta Muramatsu, especialista em Economia Comportamental. “O problema é que o prêmio pela espera não é óbvio. Na vida aprendemos que muitas vezes vale a pena esperar. Hoje isso pode ter consequências positivas, mas também muito negativas.”
Segundo a consultora Vera Rita de Mello Ferreira, pioneira da Psicologia Econômica no Brasil, a angústia sem fim provocada pelas crises econômica e política “vai esgotando nossos recursos psíquicos”. “A gente está há mais de um ano nesse vai-não-vai. Com a crise nos calcanhares, só nos preocupamos, o tempo todo, em como pagar as contas. Não conseguimos pensar com calma. Fica mais difícil vislumbrar uma saída”, diz.
Nessa situação, explica, as pessoas têm dificuldade em ver nuances. “Há uma espécie de regressão a um estado mais primitivo da mente, em que se tende a pensar de forma polarizada. Se a Dilma sair, está tudo resolvido. Ou, então, se o Lula entrar, está solucionado. Antes fosse tão simples.”
À medida que o país fica mais imprevisível, a atividade econômica vai tendendo à inércia. Inseguro, o consumidor evita grandes despesas. O comércio vende menos e reduz as encomendas à indústria, que diminui a produção e não investe. Nesse processo, muita gente perde emprego e renda, o que realimenta o círculo vicioso.
Insegurança
“Como o momento é de muita insegurança, as empresas ficam esperando o transatlântico tomar rumo para então pôr mais lenha na caldeira. Fica mais difícil captar novos projetos”, conta Marcio Trevisan, gestor comercial da Pelissari, uma consultoria de TI sediada em Curitiba. Segundo ele, o que garante o avanço do faturamento da companhia são as operações de apoio a projetos já instalados.
Na rede 10 Pastéis, o número de interessados em uma franquia triplicou em 2015, em parte porque a perda do emprego levou altos executivos a buscarem um negócio para aplicar a verba da rescisão. Mas a taxa de conversão, que indica quantas pessoas de fato viraram franqueadas, caiu 30%. “Muita gente queria assinar o contrato, mas estava insegura, com medo”, conta Cristina Fischer, do departamento de expansão. A rede planejava chegar a 50 lojas em dezembro, mas só alcançou o número neste mês. E a meta da centésima unidade foi adiada de 2017 para 2018.
Indústria “planeja” um dia de cada vez
Quando não consegue enxergar o horizonte, o empresário tende a ficar na defensiva, evitando decisões importantes, como a de aumentar a capacidade produtiva de sua empresa. Mas boa parte da indústria brasileira, afetada por problemas estruturais bem antes de a recessão começar, deixou de fazer planos há muito tempo.
Segundo os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 38% da capacidade de produção do setor está ociosa. Quando a economia reagir, portanto, a maioria das empresas ainda terá muito espaço a ocupar antes de pensar em ampliar as instalações.
“Hoje o negócio é sobreviver, um dia de cada vez. Se amanhã, quando eu chegar aqui, tiver entrado um pedido, então terei condições de manter a operação do jeito que está. Se for mais um dia sem pedidos novos, teremos de pensar em mais ajustes”, conta Alcino Tigrinho, diretor da Metalus, empresa de São José dos Pinhais que processa chapas metálicas por encomenda.
Segundo o empresário, que também preside o sindicato da indústria metal-mecânica (Sindimetal-PR), a Metalus reduziu o quadro de pessoal em 20% desde o fim de 2014. “Para nós, o resultado das eleições indicou que não haveria melhora tão cedo”, diz.
Nelson Hübner, presidente da Hübner Componentes e Sistemas Automotivos, de Araucária, conta que a empresa está racionalizando processos e cortando gastos desde 2013. “Chegamos a um ponto em que até os amigos são demitidos. É impossível falar em investimentos”, diz. A empresa, que chegou a empregar 1,4 mil pessoas, tem hoje 650 funcionários.
O único alento vem das exportações. Há alguns anos, a Hübner desenvolveu produtos e buscou mercados lá fora, mesmo com a taxa de câmbio desfavorável, e hoje se beneficia de um dólar mais valorizado. Cerca de 25% da produção é exportada, para 30 países.
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