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Captação de recursos por empresas brasileiras no exterior deve cair

O ano de 2015 deverá registrar o menor volume de captações de recursos de empresas brasileiras no exterior, via emissão de dívida, desde 2008, quando o Brasil ganhou o selo de bom pagador da Standard & Poor’s. Até agosto, só oito empresas foram ao mercado externo e tomaram US$ 8 bilhões, e esse volume pode ficar entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões até dezembro, segundo especialistas, no cenário mais otimista. Em 2008, as captações atingiram US$ 8,4 bilhões e, no ano passado, somaram US$ 45,4 bilhões. Os analistas avaliam que, com a perda do grau de investimento, as companhias terão de pagar juros mais altos para atrair investidores e, mesmo assim, vão encontrar demanda mais fraca.

O volume de emissões de companhias brasileiras no exterior está muito baixo este ano porque várias empresas haviam antecipado captações em 2014, visando a compromissos financeiros deste ano e de 2016, observa a superintendente-executiva de mercado de capitais do banco Santander, Cristina Schulman. Ela afirma que o mercado já vinha embutindo em suas operações a perda do grau de investimento nas novas emissões de dívida.

“Parte do rebaixamento já vinha sendo precificada pelo mercado. Mas é preciso lembrar que o volume de captações de empresas nacionais, este ano, é muito baixo lá fora, e o downgrade não é uma mudança de paradigma. As companhias já previam um cenário mais difícil da economia este ano e anteciparam suas captações.”

O consultor Luiz Marcatti, da Mesa Corporate, lembra que rolar as dívidas corporativas no exterior vai ficar mais caro e que a empresa terá de ter uma “história bem construída”, além de oferecer garantias mais robustas aos investidores. Marcatti afirma também que, com a valorização de quase 50% do dólar frente ao real este ano, as companhias que têm receita em reais e compromissos em moeda estrangeira enfrentarão condições mais duras, já que a economia brasileira está em recessão. “Aquelas que fizeram dívida em dólares, mas têm dependência do mercado doméstico, com receita em reais, podem ter problemas.”

Com o dólar valorizado, o custo de fazer hedge (proteção de dívida em moeda estrangeira) e emitir dívida no exterior fica mais elevado, o que desestimula as companhias a recorrerem ao mercado externo, observa Helcio Takeda, diretor de pesquisas econômicas da Pezco Microanalysis. Ele diz, no entanto, que o mercado não se fechará totalmente às empresas brasileiras, já que o país não está em uma situação de calote. “Mas a tendência de alta do dólar eleva o risco cambial, o que deve tirar o apetite de muitas empresas por novas emissões no exterior”, ressalta Takeda.

No caso de empresas com ligação direta com o governo, como a Petrobras, o prêmio de risco se potencializa, lembra Luis Scaglianti, sócio da consultoria RGF. Ele ressalta que a petrolífera está envolvida nas investigações da Operação Lava-Jato e demorou a publicar seu balanço, o que a colocou na berlinda aos olhos dos investidores internacionais. Ontem, os bônus da Petrobras com vencimento em 2024 eram negociados a 85,24% do valor de face (um retorno anual de 8,74%). Na terça-feira, os papéis valiam 86,5% do valor de face (um retorno de 8,50% ao ano).

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