Criado há quase 30 anos e já maduro na Europa, o modelo de compartilhamento de carros começa a ganhar força no Brasil e em outros mercados emergentes, comprovando que, além de ser um meio alternativo de transporte em áreas urbanas, também pode ser viável e lucrativo como negócio. Levantamento divulgado em dezembro pelo World Resources Institute (WRI) mostra que, nos últimos quatro anos, o número de empresas de car sharing em sete países, incluindo Brasil, China e México, passou de nove para 41.
No mesmo período, o número de usuários dessas empresas nos países pesquisados passou de 4,4 mil para 898 mil, comprovando que há demanda pela modalidade e espaço para novos players. Em geral, o modelo de negócio se baseia na oferta de veículos que podem ser locados por curtos espaços de tempo em pontos específicos nas cidades, sem que haja a intermediação direta de um funcionário – basta o usuário se cadastrar antecipadamente para ter acesso aos carros por meio de um cartão, por exemplo. Há também empresas que fazem a intermediação entre donos de carros e aqueles que querem “emprestar” o automóvel, em uma espécie de “Airbnb do transporte”. A curitiba Fleety, em operação desde setembro de 2014, é a única a oferecer esse modelo na América Latina.
O compartilhamento traz a reboque uma mudança cultural, onde o automóvel passa a ser visto não mais como propriedade, mas sim como serviço, com usuários deixando de assumir gastos com a compra, manutenção e impostos para botar a mão no bolso apenas quando precisarem de fato do veículo. Estudo do Boston Consulting Group (BGC), publicado mês passado, prevê que, em 2021, 35 milhões de pessoas serão usuárias de car sharing na Europa, Ásia e América do Norte, o que vai reduzir as vendas de veículos no mundo em 550 mil unidades e causar uma perda de receita para as montadoras de 7,4 bilhões de euros (o equivalente a mais de R$ 30,2 bilhões).
Os números, apesar de expressivos, não necessariamente devem trazer dor de cabeça à indústria – a perda nas vendas equivale a 1% do total de unidades previstas para serem comercializadas em cinco anos. Especialistas em transporte e empresários do setor defendem que o compartilhamento deve crescer como alternativa, mas não como opção principal de mobilidade. “O carro vai se reinventar enquanto objeto de consumo, mas a indústria do carro nunca vai acabar”, reforça o CEO da Fleety, André Marim. “Acredito muito no potencial do mercado latino-americano para o compartilhamento. É natural que haja um delay aqui em comparação com a Europa, mas vamos alcançar os números de lá nos próximos anos”, completa.
Hoje, segundo o BGC, a Europa reúne 2,1 milhões de usuários de car sharing –só na Alemanha há cerca de 140 serviços diferentes em operação.