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Meio ambiente

“Carbono neutro” marca nova fase da proteção ambiental

Quem comprou um produto da Natura nas últimas semanas provavelmente se deparou com uma tabela pouco convencional na parte de trás da embalagem. Ela informa, por exemplo, que 57,3% do desodorante corporal Ekos Castanha usa substâncias de origem renovável vegetal, 25% da embalagem é feita de material reaproveitado e que, depois do uso, 86,7% dela pode ser reciclada. A empresa paulista é a primeira fabricante de cosméticos do mundo a divulgar uma "tabela ambiental", inspirada nas tabelas nutricionais de alimentos.

A intenção é que o consumidor possa acompanhar o impacto ambiental de suas compras, bem como a evolução dos indicadores da empresa. A iniciativa faz parte de um projeto ambicioso: a Natura quer se tornar "carbono neutro" já em 2008. Até lá, pretende reduzir ao máximo as emissões de gases que causem efeito estufa e adotar medidas para compensar os poluentes que lança, direta ou indiretamente, à atmosfera.

Por sinal, a neutralidade em carbono é a moda da vez entre as empresas que têm – ou dizem ter – uma postura de responsabilidade socioambiental. Até poucos anos atrás, respeitar o meio ambiente era não lançar esgoto industrial no rio e usar papel reciclado. Hoje, uma companhia que se limite a isso dificilmente será levada a sério.

O debate, que vem ganhando força nos últimos anos, ficou ainda mais intenso depois da divulgação dos resultados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). O relatório aponta que as temperaturas podem subir até 4º C em cem anos, e que não há como evitar uma elevação de 0,1º C por década mesmo que as emissões sejam limitadas aos níveis de 2000.

"Está mais difícil se declarar ‘empresa verde’. Em várias negociações internacionais, e até para pegar financiamento em banco, a companhia precisa comprovar que a questão ambiental está de fato inserida em suas políticas", diz Bibiana Azambuja da Silva, especialista em direito ambiental da Veirano Advogados. Segundo ela, mecanismos como o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bovespa em 2005 e que reúne 33 empresas, atestam que a cobrança é crescente.

Muitas companhias têm projetos para vender créditos de carbono por meio dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto. Mas, sabendo que ganhar dinheiro com menos emissões não é sinônimo de responsabilidade ambiental, empresas de diversos setores estão agindo independentemente da obtenção de créditos. Montadoras, fabricantes de alimentos e bebidas, produtoras de papel e celulose, a indústria química e até petroleiras – vilãs do aquecimento global – têm investido nisso. Alguns exemplos são as iniciativas de empresas como Sadia, Perdigão, Klabin, Ambev, Coca-Cola, Volvo, Renault, Volkswagen e Petrobrás.

Redução

O primeiro passo para reduzir as emissões é fazer um inventário. "Estamos considerando desde a matéria-prima das embalagens, passando pela produção e pelo transporte dos produtos, até a reciclagem. Mesmo o deslocamento de nossas consultoras de vendas será incluído", explica o diretor de pesquisa e tecnologia da Natura, Daniel Gonzaga. "É a partir do inventário que definiremos como será o processo de neutralização. A prioridade, antes de compensar, é reduzir."

Especialistas no assunto apontam que a maioria das empresas ainda tem postura meramente reativa na questão ambiental: uma recente pesquisa da Price Waterhouse Coopers (PWC), mostrou que 74% das companhias investem na área basicamente para cumprir a lei. Mas existe a percepção de que o debate está mais maduro e a gestão ambiental das empresas, mais aprimorada.

"Quem trabalha na área era visto como exagerado. Hoje vemos que nossa causa tinha sua razão", diz Denílson Cardoso, que atua nos projetos de ação contra o aquecimento global da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). "As empresas pró-ativas, que se adiantam a eventuais obrigações, aumentam sua eficiência e competitividade", diz Ricardo Zibas, gerente de mudanças climáticas da PWC. "Para garantir sua sobrevivência por 50 ou 100 anos, a empresa precisa pensar no longo prazo e, portanto, no meio ambiente."

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