O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, apareceu pela primeira vez nesta terça-feira (8) desde que foi preso, há quase dois meses. O executivo prestou depoimento em audiência no Tribunal Distrital de Tóquio. Mais de mil pessoas tentaram acompanhar a audiência, de acordo com o tribunal, mas só 14 cadeiras ficaram disponíveis para o público em geral. O antigo chefe da Nissan compareceu à sessão de terno e chinelos, parecendo mais magro do que em fotos de antes da detenção. Seu cabelo estava grisalho nas raízes e ele estava algemado, com um cordão em volta da cintura.
Ao tribunal, ele afirmou ter “agido com honra, legalmente e com o conhecimento e a aprovação dos diretores da companhia”. O presidente da Renault e ex-chefe do conselho da Nissan é acusado de ocultar parte da sua renda e de repassar à montadora perdas com investimentos pessoais.
Em uma carta apresentada pelos seus representantes no início da audiência, Ghosn se declarou inocente. “Fui injustamente acusado e injustamente detido com base em acusações sem fundamento e infundadas”, disse em declaração obtida pela agência de notícias Reuters.
“Ao contrário das acusações feitas pelos promotores, nunca recebi nenhuma compensação da Nissan que não foi divulgada, nem jamais contratei qualquer contrato vinculativo com a Nissan para receber uma quantia fixa que não foi divulgada.”
Ghosn foi chamado para a audiência às 10h30 no horário local (23h30, em Brasília), no Tribunal Distrital de Tóquio. A audiência solicitada por seus advogados para que os promotores expliquem as razões da detenção prolongada.
Uma multidão de jornalistas e equipes de televisão se reuniram em frente ao tribunal. De acordo com a imprensa local, mais de mil pessoas fizeram fila para receber as senhas dos 14 assentos disponíveis na corte.
Ghosn foi preso dia 19 de novembro, sob suspeita de ocultar ganhos na Nissan. Ele também é acusado de violação grave de confiança pois teria transferido prejuízos com investimentos pessoais para a empresa, da qual foi afastado como presidente do conselho de administração.
Em entrevista, o filho do executivo, Anthony Ghosn, afirmou que os promotores japoneses querem que Carlos Ghosn confesse má conduta financeira.
Anthony Ghosn disse que o pai não sabe falar japones. “O paradoxo é que a confissão que eles querem que ele assine está escrita exclusivamente em japonês”, afirmou em entrevista ao jornal francês Journal du Dimanche (JDD).
O executivo tem sido tratado como outros na detenção, preso em uma sala pequena e fria, sem advogado durante interrogatório.
A prisão de Ghosn atraiu críticas sobre o sistema legal no Japão, onde especialistas judiciais dizem que os promotores frequentemente tentam forçar confissões de suspeitos.
O promotor-adjunto do Escritório de Promotoria Pública do Distrito de Tóquio, Shin Kukimoto, disse no mês passado que tal método não estaria sendo usado com Ghosn.
Anthony Ghosn afirmou ao Journal du Dimanche que o advogado de seu pai ainda não tinha visto o arquivo integral do promotor sobre o caso.
“Do que eu entendo, no sistema japonês, quando uma pessoa é mantida em detenção, o promotor revela pouco a pouco os elementos que eles têm à disposição. Em cada ocasião, meu pai então compartilha esses detalhes com os advogados dele.”
“Pela primeira vez, ele poderá responder as acusações contra ele, dar sua versão dos eventos”, afirmou Anthony Ghosn.
ALIANÇA
Nesta terça, o presidente da Nissan, Hiroto Saikawa, disse que a aliança industrial com a Renault e a Mitsubishi não está em perigo, em razão da prisão de Ghosn.
Hiroto Saikawa não quis, porém, falar sobre o futuro do brasileiro, que foi seu mentor na companhia.
Tanto a Nissan quanto a Mitsubishi afastaram Ghosn da presidência, após sua detenção. Já a Renault decidiu mantê-lo como conselheiro, por enquanto, invocando a presunção de inocência.
A Renault detém uma participação de 43,4% na Nissan e esta detém uma parcela de 15% na montadora francesa, sem direito a voto. A Nissan tem ainda uma participação de 34% na Mitsubishi.
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