O comércio está mais cauteloso com o endividamento e a inadimplência alta dos últimos meses. Os prazos oferecidos e o crédito já encolheram no primeiro trimestre e a reposição de estoques nas gôndolas está mais lenta. O setor acredita que ainda é cedo para falar em tendência, mas uma recuperação mais forte só deve ser verificada na segunda metade do ano. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) apurou que 21% das empresas do comércio no país estavam com estoques acima do normal em março.
Segundo Marianne Lorena Hanson, economista da CNC, o número de famílias endividadas vem caindo, mas a inadimplência continua alta, o que é sinal de alerta para o comércio e para os bancos. A média diária de concessões de crédito para aquisição de automóveis e outros bens duráveis caiu 16,3% no primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2011, segundo dados divulgados na semana passada pelo Banco Central. Em março, a média estava em R$ 450 milhões por dia queda de 3,8% em relação a fevereiro. No mês passado, todas as modalidades pesquisadas (que incluem ainda cheque especial, cartão de crédito e crédito pessoal) tiveram queda, e na média recuaram 5,7% em relação a fevereiro para R$ 3,64 bilhões.
Mesmo com um cenário de aumento de renda, baixa taxa de desemprego e inflação mais comportada, a confiança das famílias em consumir vem se recuperando em um ritmo mais lento, segundo a CNC. Depois de cair em março, a intenção de compra se manteve estável em abril.
O primeiro sinal de perda de fôlego do comércio no Paraná veio em fevereiro último dado disponível , quando as vendas caíram 3,2% em relação a janeiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a primeira queda mensal desde outubro do ano passado. Ainda assim, na comparação com o mesmo período de 2011 as vendas estão 15,9% maiores. Segundo o presidente da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), Darci Piana, a expectativa inicial de um crescimento das vendas de 8,5% para 2012 dificilmente será cumprida. "Esperamos agora um avanço entre 5,5% e 6,5%", acrescenta. Os estoques estão acima do desejado principalmente em setores como vestuário, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
Prazos
Mas, se no passado recente a estratégia para alavancar as vendas e desovar estoques era esticar prazos e fazer a parcela caber no bolso do consumidor, a inadimplência vem limitando essa expansão. Redes de varejo que chegaram a anunciar eletrodomésticos e eletroeletrônicos com prazos de pagamento de até 24 meses hoje trabalham com prazos de no máximo 18 meses. Anúncios de carros que oferecem prazos de até 60 meses, por outro lado, são cada vez mais raros. A média do mercado é de 48 meses.
"De um lado temos fatores positivos, como emprego e renda altos e queda nos juros, mas por outro o comércio está preocupado com os atrasos. Ninguém sabe, também, até onde os incentivos fiscais como a redução do IPI sobre bens duráveis terão efeito em aquecer o consumo", afirma Marianne, da CNC. Demanda existe, mas ninguém troca de fogão ou refrigerador todo mês, lembra.